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Temendo perder benefício, Riva se cala: “não tenho outra opção”

O ex-presidente da Assembleia Legislativa, José Riva, citou sua prerrogativa de permanecer em silêncio e não respondeu aos questionamentos dos vereadores de Cuiabá durante oitiva na CPI do Paletó, na manhã desta quarta-feira (3).

Riva alegou que, em virtude do sigilo do seu acordo de colaboração premiada firmado na Justiça, não poderia prestar maiores esclarecimentos sobre os fatos investigados na CPI.

A investigação apura suposta quebra de decoro do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), gravado recebendo maços de dinheiro – supostamente de propina – à época em que era deputado estadual.

“Eu quero – no momento certo – esclarecer todo e qualquer fato que esta Casa achar necessário. Mas infelizmente, por um trabalho conduzido por muito tempo, eu não tenho outra opção senão me manter em silêncio. Tive muito tempo para pensar, me arrependi de tudo que foi feito de errado e estou fazendo ressarcimento ao Estado dentro do acordo firmado”, disse Riva durante oitiva, que ocorreu de maneira virtual.

“É unanime que a minha fala neste momento não pode ser outra senão o silêncio em função da prerrogativa que tenho e do acordo firmado”, completou.

O ex-parlamentar chegou a dizer que, caso uma possível suspensão do sigilo venha a ocorrer, e uma nova data seja agendada, ele não teria restrições em contribuir.

“Se, eventualmente, surgir uma nova data – eu sei que vocês têm tempo – eu me coloco à disposição para em outro momento esclarecer esse assunto”, disse.

Alguns vereadores, como o relator do processo, Toninho de Souza (PSD), e Felipe Wellaton (Cidadania) insistiram em questioná-lo sobre o vídeo do prefeito recebendo dinheiro no Palácio Paiaguas.  Riva foi enfático.

“Logicamente se você abre um precedente para falar em um assunto, pode vir a atrapalhar as investigações. O grande medo de quem firma uma colaboração é atrapalhar o trabalho da Justiça. E isso é o que menos quero”, disse o ex-parlamentar.

Ao se despedir dos parlamentares da comissão, afirmou que o “poder” pode trazer ganância e resultar em ilícitos.

“De fato, o poder faz com que às vezes acontece o que aconteceu comigo e me arrependi de tudo que fiz. Procurei me redimir e a sociedade mato-grossense, no tempo certo, vai saber. Eu procurei atuar em cima da verdade, nada mais que isso. Ninguém vai carregar um peso maior que deve. Eu terei prazer em colaborar, mas não tenho outra opção senão o silêncio”, disse.

Encaminhamento ao TJ

O presidente da CPI do Paletó, vereador Marcelo Bussiki, afirmou que irá encaminhar um pedido ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso para tentar permissão para que o depoimento do ex-deputado ocorra.

O ex-deputado, que foi presidente do Legislativo Estadual, é considerado peça fundamental, uma vez que ele confirmou em delação premiada a existência do pagamento de “mensalinho” para dezenas de deputados – ao longo de 20 anos em que esteve como parlamentar.

Riva disse que se aceito, esclareceria sobre o assunto: “Se o pleito for feito, não teria problema em falar sobre o assunto”.

Delação

O ex-deputado firmou acordo com o Ministério Público Estadual (MPE), em dezembro de 2019. O documento foi homologado no início deste ano pelo desembargador Marcos Machado, do Tribunal de Justiça.

Em outubro do ano passado, veio a público um suposto aditamento do acordo de colaboração do ex-deputado. No documento, Riva revelou o pagamento de propinas milionárias a 38 parlamentares e ex-parlamentares ao longo dos 20 anos em que esteve no comando do Legislativo. Neste período, pagamentos ilícitos teriam chegado a R$ 175,7 milhões.

Dentre esses deputados, segundo Riva, estava Emanuel, que teria recebido propina durante o período em que era parlamentar.

Texto: Cíntia Borges/Mídia News

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