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Bancada do Democratas já reflete guinada pró-Bolsonaro

A maioria da bancada do DEM na Câmara é simpática às pautas do governo no Congresso e não descarta apoiar o presidente da República, Jair Bolsonaro, na disputa pela reeleição em 2022.

A provável saída do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) do partido também não provocará uma “debandada” dos deputados da legenda. As conclusões são de um levantamento do Estadão com os parlamentares da sigla na Casa.

Nos últimos dias, a reportagem contatou os 27 deputados em exercício do partido. Entre os 22 que responderam às perguntas, só dois – Alexandre Leite (SP) e Kim Kataguiri (SP) – descartaram apoiar Bolsonaro em 2022. Outros seis disseram que vão apoiar o atual presidente da República na disputa pela reeleição. Os demais afirmaram que não decidiram ainda, mas deixaram aberta a possibilidade de defender uma aliança com Bolsonaro. E nenhum deputado, com exceção de Maia, pretende deixar o DEM.

Boa parte dos que foram ouvidos também se mostraram dispostos a apoiar as pautas do governo na Câmara, ainda que o alinhamento não seja automático.

Segundo o líder do partido, Efraim Filho (PB), a bancada “segue a linha da independência”.

– O grupo aprovará os temas com os quais temos identidade, especialmente a agenda econômica, mas preservará a autonomia de divergir com temas discrepantes – disse ele.

Apesar disso, a sigla conta com dois ministros na gestão Bolsonaro (Onyx Lorenzoni, no ministério da Cidadania, e Tereza Cristina, no da Agricultura), além de um deputado na função de vice-líder do governo na Câmara (Paulo Azi, BA) e um no Congresso (Pedro Lupion, RJ).

No começo de fevereiro, a eleição para a presidência da Câmara expôs divergências entre figuras poderosas do partido, como Maia e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, e a maioria dos deputados.

Inicialmente o DEM apoiou o candidato de Maia à presidência da Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP). Às vésperas da votação, porém, o partido retirou o apoio ao emedebista e adotou a neutralidade. A mudança favoreceu o candidato apoiado por Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), que saiu vitorioso no primeiro turno, com 302 votos.

Questionado, Maia disse que o posicionamento dos colegas de bancada não o surpreendeu.

– Nenhuma novidade. O resultado da eleição da Câmara mostrou que isso é uma tendência no partido. Independência não existe. Ou você é governo, ou é oposição – disse o ex-presidente da Câmara.

Maia também reconheceu que seu plano de deslocar o partido da direita para o centro do espectro político deu errado.

– Pela pesquisa que vocês [da reportagem] fizeram, parece que sim, né? O projeto de levar o DEM para o centro fracassou – afirmou Maia.

Sobre a inexistência de um movimento de saída de deputados do DEM, Maia disse que não está trabalhando para provocar uma revoada na sigla.

– Eu não convidei ninguém para sair comigo do partido… Nem mesmo o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

As respostas dos deputados contrariam o discurso do presidente nacional do DEM, ACM Neto.

Na terça-feira (9), Neto jantou em São Paulo com o governador João Doria (PSDB) e, segundo o tucano, disse que a sigla não apoiará Bolsonaro no Congresso nem na disputa de 2022. Doria também tem a intenção de disputar a Presidência nas próximas eleições.

Pouco após o governador relatar o encontro em entrevista a jornalistas nesta quarta-feira (10), ACM Neto divulgou uma nota. No texto, o ex-prefeito de Salvador diz que “não permitirá, neste momento, que aconteça qualquer debate interno sobre o processo eleitoral de 2022”. Para ele, “esse assunto não compõe a agenda prioritária do país, e nem da sigla”.

– Tal como vem acontecendo desde o início de 2019, o DEM mantém sua posição de independência em relação ao governo federal, não estando sequer sob discussão partidária qualquer posição diferente desta – diz o texto assinado pela Executiva Nacional da legenda.

LEVANTAMENTO
Dos 27 parlamentares procurados pela reportagem, só quatro não responderam aos questionamentos: Carlos Henrique Gaguim (TO), Igor Kannário (BA), Juninho do Pneu (RJ) e Marcos Soares (RJ). Do total, quatro são presidentes de diretórios regionais do partido, o que significa que têm maior influência nas decisões partidárias. São eles: Alan Rick (AC), Hélio Leite (PA), Norma Ayub (ES) e Professora Dorinha (TO).

O conjunto das respostas mostra que parte da bancada está magoada com Maia, ainda mais depois das últimas declarações públicas dele com críticas ao partido.

Arthur Oliveira Maia (BA), por exemplo, ironizou ao ser perguntado se sairia do DEM.

– Kkkkk, era só o que faltava. Rodrigo já vai tarde – disse ele por mensagem de texto. Apesar do sobrenome, o baiano não tem parentesco com o carioca.

– Ninguém na bancada, depois da última entrevista que ele [Rodrigo Maia] deu, está feliz com ele. Depois daquela entrevista, ele acabou com o nome dele… de vez. Se estava ruim [o clima], agora está péssimo – disse o deputado Luís Miranda (DF), referindo-se à entrevista do ex-presidente da Câmara para o jornal Valor Econômico, publicada na segunda-feira (8).

Sobre o apoio ou não a Bolsonaro, alguns deputados foram enfáticos ao defender seus posicionamentos. Kataguiri, por exemplo, disse que prefere fazer “campanha pelo voto nulo antes de apoiar Bolsonaro”. Pedro Lupion (RJ), por sua vez, disse que é “óbvio” que defenderá a reeleição.

A maioria, no entanto, preferiu a cautela. “Agora é momento de falar de Brasil”, afirmou José Schreiner (GO).

– É muito cedo para falar de 2022. A gente nem sabe se estará vivo [até lá] – acrescentou Elmar Nascimento (BA).

ACM NETO E DORIA
Em um movimento para tentar conter a crise no DEM, o ex-prefeito de Salvador e presidente nacional da legenda, ACM Neto, jantou na noite de terça em São Paulo com o governador João Doria (PSDB). No encontro, o dirigente afirmou que o partido ainda avalia a hipótese de apoiar o governador na disputa presidencial de 2022 e não estará necessariamente na área de influência do presidente Jair Bolsonaro.

Na conversa na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes, estavam à mesa ACM Neto, o vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), o ex-ministro Mendonça Filho (DEM-PE), o presidente do PSDB-SP e secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, e o “embaixador” de São Paulo em Brasília, o ex-deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA).

Segundo participantes, ACM Neto foi “respeitoso” em relação ao deputado Rodrigo Maia (RJ), ex-presidente da Câmara e que está de saída do partido, e não cobrou Doria pelo convite que este fez ao deputado Maia para que se filiasse ao PSDB. À tarde, em nota, ACM Neto afirmou apenas que “não permitirá, neste momento, que aconteça qualquer debate interno sobre o processo eleitoral de 2022”.

*Estadão

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