O presidente Lula (PT) vem agindo estrategicamente na consolidação das alianças políticas visando as eleições municipais, com especial atenção aos locais onde é flagrante o embate entre seu grupo político e os apoiadores de Jair Bolsonaro (PL). Neste cenário, as capitais têm um papel crucial, e Lula mira sua atuação em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre, cidades onde a polarização lulista versus bolsonarista é mais acentuada, ainda que haja múltiplas candidaturas alinhadas ao petismo.
A parcial desistência do PT em lançar um nome para a prefeitura de São Paulo ganha relevo com Lula indicando apoio a Guilherme Boulos (PSOL), fato explicitado pelo ex-presidente em entrevista à rádio Metrópole. Aqui, a dinâmica política sugere uma quase personificação do confronto entre Lula e Bolsonaro, simbolizada na chapa Boulos-Marta, que terão como oponente Ricardo Nunes (MDB), este último buscando aliança com o PL e com o atual presidente.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro e em Recife, o esforço petista se concentra em reforçar o campo lulista apoiando figuras alinhadas, com o objetivo de construir uma base sólida para as eleições de 2026. Assim, no Rio, a relação com Eduardo Paes (PSD) e, em Recife, com João Campos (PSB), é cercada de manobras visando posições de vice, mesmo diante de desafios internos e oposição.
A saga política se estende pelo país, com Lula defendendo a união em torno de Lúdio Cabral (PT) em Cuiabá, e a aproximação peculiar entre Adriana Accorsi (PT) e o outrora bolsonarista Vanderlan Cardoso (PSD) em Goiânia.
Por outro lado, cidades como Curitiba e Salvador revelam as complexidades da política partidária, onde os apoios e o pragmatismo eleitoral demandam de Lula uma postura mais comedida, especialmente em disputas envolvendo aliados entre si. Em Salvador, a manobra sutil de Lula demonstra a necessidade de equilibrar os interesses partidários no apoio a Geraldo Júnior (MDB), em face da forte aliança entre os partidos da base no Congresso.
Na contínua orquestração política, Lula se mantém prudente em locais onde a disputa transcorre exclusivamente entre aliados, reservando uma atuação mais incisiva para cenários de confronto direto com o bolsonarismo, como é o caso de Fortaleza, onde a participação efetiva do ex-presidente está condicionada a um eventual segundo turno contra Capitão Wagner (União Brasil), apoiador de Bolsonaro.
Essa meticulosa engenharia política desenhada por Lula reflete a estratégia de criar fortalezas estratégicas nas cidades chave, visando tanto as vitórias imediatas nas eleições municipais quanto a estruturação de um bloco de poder robusto para embates futuros, em um xadrez político onde cada movimento é calculado com esmero.