Neste ano, a Rússia se firmou como a maior fornecedora de diesel importado pelo Brasil. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), 63,6% do diesel comprado do exterior veio do país russo — um avanço em relação aos 50,4% registrados em 2023. O combustível é essencial para o transporte rodoviário brasileiro, que enfrenta um déficit de produção interna de aproximadamente 25%. Em recente declaração, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou essa estimativa para 30%, afirmando que “70% dos 30% é importado da Rússia”.
União Europeia aprova novo pacote de sanções contra Moscou
A União Europeia aprovou nesta terça-feira (20) o 17º pacote de sanções contra a Rússia, com foco especial no comércio de petróleo. A iniciativa ocorre após conversas entre líderes europeus e Donald Trump, segundo postagem do político alemão Friedrich Merz. O objetivo das medidas é aumentar a pressão econômica sobre o governo de Vladimir Putin, atingindo também países que continuam comprando petróleo russo — como o Brasil.
Frota fantasma e dificuldades logísticas
O novo pacote europeu tem como alvo a chamada “shadow fleet” — cerca de 350 navios petroleiros que transportam 85% do petróleo russo e operam de forma a driblar sanções. Esses navios partem principalmente dos portos de Primorsk, Vigotski, São Petersburgo e Ust-Luga, localizados na região de São Petersburgo.
Para chegar ao Brasil, a rota é longa e complexa: os navios cruzam o golfo da Finlândia, o mar Báltico, os estreitos da Dinamarca, o mar do Norte e o canal da Mancha, levando cerca de 24 dias até o porto de Santos — quatro a cinco dias a mais do que o trajeto vindo dos EUA.
Mesmo com as dificuldades logísticas e a travessia por áreas sob influência da Otan, os derivados de petróleo da Rússia continuam ganhando espaço no mercado brasileiro, conforme destaca a Abicom.
Tensões geopolíticas agravam cenário
Nos últimos dias, aumentaram os episódios de tensão nas rotas de transporte. No domingo (18), um navio petroleiro com bandeira grega, vindo da Estônia, foi abordado pela marinha russa. Pouco antes, um caça russo Su-37 invadiu o espaço aéreo da Estônia após outro navio com petróleo ser escoltado para fora do mar territorial do país. Diante disso, a chanceler da União Europeia, Kaja Kallas, prometeu endurecer ainda mais as medidas: “Quanto mais tempo a Rússia continuar em guerra, mais dura será a nossa resposta”.
Europa e EUA discutem medidas mais rígidas
Além das sanções já aprovadas, a União Europeia estuda novos cortes. O G7, por exemplo, debate reduzir o teto de preço do petróleo russo de US$ 60 para US$ 50, o que pode afetar a rentabilidade das transações. A França também demonstrou interesse em um projeto do senador norte-americano Lindsey Graham, que propõe sobretaxa de 500% sobre negócios com a Rússia, inclusive para países que ainda mantêm relações comerciais com Moscou.
Impacto no preço do diesel no Brasil
Com o endurecimento das sanções, o diferencial de preço entre o diesel russo e o americano já começou a diminuir. O desconto que chegou a ser de R$ 0,15 por litro caiu para algo entre R$ 0,03 e R$ 0,04. A tendência é que a pressão sobre os preços aumente nas próximas semanas.
Distribuição e cautela no setor privado
Atualmente, empresas de todos os portes importam diesel no Brasil, desde pequenas distribuidoras regionais até gigantes como Vibra (ex-BR Distribuidora) e Ipiranga. A Petrobras, por sua vez, não compra diesel russo, optando por fornecedores dos EUA, Índia e países árabes. Em 2023, a estatal respondeu por um terço das importações nacionais.
Com a escalada das sanções, grandes distribuidoras vêm adotando mais cautela ao negociar com fornecedores russos, especialmente por temer punições internacionais. Empresas com ações em Bolsa, como Vibra e Ipiranga, são mais vulneráveis a essas restrições.
Mudança no perfil das compras pode impactar consumidor
Empresas de menor porte continuam adquirindo diesel russo, por meio da modalidade “entregue no porto”, em que o fornecedor se responsabiliza pelo transporte. No entanto, com o aumento das sanções, o setor estima que as grandes distribuidoras deverão buscar novos fornecedores. Isso poderá impactar os preços nas bombas, afetando diretamente o consumidor final.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio