Em um contexto de intensificação das disputas econômicas globais, a crescente relação do Brasil com a China no setor agropecuário levanta questões sobre vulnerabilidades estratégicas e riscos à soberania econômica. Leandro Weber Viegas, CEO da Sell Agro, alerta para as transformações que podem, se não forem monitoradas, prejudicar o futuro do agronegócio nacional.
O Brasil alcança recordes, mas com um comprador predominante
Em 2024, o agronegócio brasileiro deve alcançar recordes históricos, com exportações de commodities agrícolas superando os US$ 175 bilhões. No entanto, um dado se destaca: quase US$ 70 bilhões desse total serão destinados exclusivamente à China. Esse panorama reforça o crescente papel da China como principal parceiro comercial do Brasil, mas também expõe uma dependência alarmante.
Investimentos chineses controlam parte da logística brasileira
Dados confidenciais revelam que a China já controla 18% da capacidade logística agroportuária do Brasil, seja por meio de investimentos diretos ou parcerias camufladas em joint ventures com empresas locais. Esse controle estratégico tem implicações profundas, não só no comércio de commodities, mas na infraestrutura fundamental para a movimentação dessas mercadorias. O Brasil, ao ceder parte de sua infraestrutura, pode estar abrindo mão de uma soberania vital para o seu futuro econômico.
Fertilizantes e tecnologia: o Brasil financia o avanço chinês
Outro aspecto crucial é a crescente dependência do Brasil de fertilizantes chineses. Em 2024, mais de 50% dos fertilizantes essenciais à produção agrícola brasileira vêm de empresas ou territórios chineses, colocando o país em uma vulnerabilidade crítica. Paralelamente, o Brasil exporta matérias-primas como soja e milho, mas importa tecnologia de ponta da China, como drones agrícolas, softwares de gestão e inteligência artificial aplicada ao agro. Essa troca parece ser um paradoxo perigoso, onde o Brasil financia o avanço tecnológico de seu principal cliente e possível competidor futuro.
A “Rota da Seda Verde” e o novo modelo de colonização econômica
A China não apenas se consolidou como um grande comprador de commodities brasileiras, mas também está estabelecendo a chamada “Rota da Seda Verde”, conectando Brasil, África e Sudeste Asiático sob sua influência econômica. Trata-se de uma estratégia silenciosa, uma parceria que, disfarçada de acordos comerciais, visa garantir o controle das principais rotas comerciais e fontes de recursos naturais.
Além disso, enquanto o Brasil celebra seus superávits comerciais, a China prepara-se para se tornar autossuficiente em termos agroalimentares, com investimentos bilionários em infraestrutura e projetos agrícolas na África. Este movimento de longo prazo, que não depende de controle territorial direto, visa fortalecer a posição da China em mercados emergentes, muitas vezes à custa de mercados como o brasileiro.
O Brasil está sendo “testado” pela China
Fontes internas das negociações internacionais revelam que o Brasil está sendo “testado” pela China como modelo piloto para uma nova forma de colonização econômica indireta: controlar sem invadir, dominar sem ocupar. Se não forem tomadas ações imediatas, o Brasil pode se ver comprometido, perdendo seu protagonismo e sua autonomia econômica no futuro próximo.
Estratégias para enfrentar o cenário
Diante desse cenário, é urgente que o Brasil adote estratégias ousadas e proativas para garantir sua independência econômica e segurança no agronegócio. Algumas das ações recomendadas incluem:
- Criação de uma Reserva Nacional Estratégica de Fertilizantes, para reduzir a dependência de fontes externas e garantir autonomia nas produções agrícolas.
- Fortalecimento de acordos multilaterais com economias sólidas, como Europa, América do Norte e Índia, para diversificar mercados e reduzir riscos.
- Investimento em inovação tecnológica local, assegurando que o Brasil não apenas produza commodities, mas também controle as tecnologias do futuro.
A hora de agir é agora
O momento de ação é agora. O Brasil não pode permitir que o setor agropecuário se torne uma armadilha estratégica. Não basta ser o celeiro do mundo; o país precisa ser protagonista no cenário global, com plena soberania sobre sua economia e seus recursos naturais. Se não houver uma reação imediata e uma reorientação da política comercial, o Brasil poderá, em breve, perder o controle sobre o próprio futuro econômico, sucumbindo a uma nova forma de colonização econômica que não exige exércitos, mas sim negociações nos bastidores.
O Brasil deve romper as “algemas invisíveis” dessa dependência crescente e buscar alternativas que garantam sua autonomia e protagonismo em um cenário global cada vez mais competitivo e complexo.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio