URUGUAI – Velório de Pepe Mujica começa nesta quarta-feira e será aberto ao público

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Velório de Pepe Mujica começa nesta quarta-feira e será aberto ao público | Reprodução

O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, será velado a partir desta quarta-feira (14), em Montevidéu, em uma cerimônia aberta ao público que deve durar cerca de 24 horas. A informação foi divulgada pelo portal G1, que também confirmou a morte do líder uruguaio na terça-feira (13), aos 89 anos, após meses de tratamento contra um câncer no esôfago.

O cortejo fúnebre sairá às 10h da sede do governo, passará pelo Movimento de Participação Popular (MPP), grupo político fundado por Mujica, e seguirá até o Palácio Legislativo, onde o corpo será velado a partir das 15h. Segundo o jornal El Observador, a cremação está prevista para quinta-feira (15), embora a família ainda não tenha confirmado oficialmente se o desejo de Mujica — ser sepultado em sua chácara nos arredores da capital — será respeitado.

A morte de Mujica mobilizou o país e líderes internacionais. O governo uruguaio decretou luto oficial de três dias em homenagem à figura que se tornou símbolo da política progressista na América Latina e referência de austeridade e empatia no exercício do poder.

Nascido em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, Mujica começou sua trajetória política como membro da guerrilha Tupamaros, grupo armado de esquerda que atuou nos anos 1960 e ficou conhecido por assaltar bancos e distribuir alimentos e dinheiro aos mais pobres. Ferido em confrontos com a polícia, ele foi preso diversas vezes, até ser capturado definitivamente em 1972. Passou 14 anos na prisão, foi torturado e só foi libertado em 1985 com a anistia geral após o fim da ditadura militar.

A partir dos anos 1990, Mujica trocou as armas pela política institucional. Foi eleito deputado em 1994, senador em 1999 e ministro da Agricultura em 2005, durante o governo de Tabaré Vázquez. Em 2010, chegou à Presidência da República, onde governou até 2015, marcando a história do país com uma agenda fortemente voltada à justiça social.

Durante seu mandato, aumentou os investimentos sociais, elevou o salário mínimo em 250% e defendeu pautas progressistas, como a legalização da maconha, a ampliação dos direitos reprodutivos e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ainda na presidência, Mujica destinava 90% de seu salário a projetos sociais e recusava o luxo do cargo: vivia em uma chácara modesta e dirigia ele mesmo um Fusca 1987 até o Palácio Presidencial.

O estilo de vida espartano e o discurso direto o tornaram uma figura admirada muito além das fronteiras do Uruguai. Com frequência, era chamado de “o presidente mais pobre do mundo” e recebia destaque em veículos internacionais por sua simplicidade e coerência entre discurso e prática.

Após deixar a presidência, Mujica retornou ao Senado e ocupou o cargo até 2020, quando renunciou alegando problemas de saúde e preocupação com a pandemia de Covid-19. Desde então, vivia recluso, cuidando da horta em sua propriedade rural.

Mesmo tendo se declarado ateu durante toda a vida, Mujica expressava profunda reverência pela natureza e pela existência. Em uma entrevista de 2012, resumiu sua filosofia de vida: “Não tenho religião, mas sou quase panteísta: admiro a natureza”.

Pepe Mujica deixa um legado de coerência na política latino-americana. Um líder que enfrentou prisões e torturas, chegou à presidência sem abandonar suas convicções e partiu como símbolo de integridade, humildade e compromisso com os mais vulneráveis.

Fonte: Brasil 247