Zoneamento climático do abacaxi é ampliado para todo o Brasil com nova versão do Zarc

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O cultivo do abacaxi no Brasil acaba de ganhar uma ferramenta estratégica e abrangente. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou, em 13 de fevereiro, o primeiro Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) da cultura com alcance nacional. Desenvolvido pela Embrapa, o novo Zarc fornece orientações para produtores de todo o País sobre as condições ideais para o plantio, com base em dados científicos e históricos. A atualização promete ganhos de produtividade e menor exposição a riscos, principalmente em áreas vulneráveis como o Semiárido.

Três níveis de risco para todas as fases do cultivo

Uma das principais novidades da nova versão do Zarc é a introdução de três níveis de risco climático — 20%, 30% e 40% — aplicáveis às fases do desenvolvimento do abacaxi, da floração à colheita. Essa classificação permite a elaboração de calendários de plantio mais precisos, ajudando o agricultor a identificar os períodos e locais com maiores chances de sucesso.

Segundo o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Maurício Coelho, responsável técnico pelo Zarc Abacaxi, o modelo considera quatro fases da planta: implantação e desenvolvimento inicial; crescimento vegetativo; indução floral e início da frutificação; e, por fim, o desenvolvimento do fruto até a colheita.

Solo e armazenamento de água: nova classificação com seis categorias

A categorização dos solos também passou por melhorias. Agora, a capacidade de armazenamento de água é dividida em seis classes, com variação de 34 a 184 milímetros por metro de profundidade. A mudança permite representar melhor os diferentes tipos de solo encontrados no Brasil, o que impacta diretamente na avaliação do risco climático.

Coelho explica que solos com baixa capacidade de retenção hídrica elevam o risco de cultivo, enquanto áreas sujeitas ao encharcamento também devem ser evitadas. Locais propensos a geadas frequentes ou acima de mil metros de altitude foram igualmente classificados como de alto risco climático.

Consideração de variedades e obrigatoriedade de mudas certificadas

Pela primeira vez, o Zarc leva em conta as características específicas das principais variedades cultivadas no país, agrupadas em dois conjuntos: o grupo 1, mais rústico, composto pelas variedades ‘Pérola’, ‘Turiaçu’ e ‘Smooth Cayenne’; e o grupo 2, que inclui a variedade ‘BRS Imperial’, mais sensível a estresses ambientais.

A nova portaria também estabelece que áreas recém-implantadas com novas variedades devem utilizar mudas certificadas, provenientes de viveiros credenciados conforme a legislação brasileira de sementes e mudas (Lei nº 10.711/2003 e Decreto nº 5.153/2004).

Ferramenta reduz riscos e dá acesso a políticas públicas

O coordenador-geral de risco agropecuário do Mapa, Hugo Borges Rodrigues, destaca que o novo Zarc é fundamental para a modernização da gestão de riscos no campo. “Além de indicar os períodos mais propícios ao plantio, seu uso é exigência para acesso a programas como o Proagro e o PSR, que garantem cobertura contra perdas”, afirma.

Base meteorológica atualizada até 2022

A base de dados do Zarc também foi aprimorada. Agora, são utilizados dados meteorológicos atualizados até 2022, provenientes de redes como o Inmet, o sistema HidroWeb da ANA, o Cptec/Inpe e instituições estaduais. Isso permite uma análise climática mais precisa e condizente com a realidade atual.

O pesquisador Eduardo Monteiro, da Embrapa Agricultura Digital, enfatiza que essa atualização é um diferencial técnico importante em relação ao zoneamento anterior.

Importância para regiões semiáridas e planejamento agrícola

Para o pesquisador Domingo Haroldo Reinhardt, que atua em Itaberaba (BA), maior produtor de abacaxi da Bahia, a nova metodologia é essencial, especialmente para regiões semiáridas. “A ferramenta agora considera melhor as diferenças dentro de um mesmo município”, afirma.

O mesmo ponto é defendido por Aristoteles Pires de Matos, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, que atua nos estados do Pará e Tocantins. Segundo ele, o Zarc deve ser usado tanto por novos produtores quanto por aqueles que desejam expandir áreas de cultivo. “O zoneamento não deve ser visto apenas como exigência de crédito, mas como um apoio técnico ao monitoramento de pragas e doenças”, observa.

Padronização nacional e continuidade espacial dos dados

O pesquisador Balbino Antonio Evangelista, da Embrapa Cerrados, destaca que a versão anterior do Zarc para abacaxi era fragmentada, com dados regionais variados. Agora, sob coordenação da Embrapa, os estudos foram padronizados e passaram a representar melhor as condições climáticas em todo o território nacional.

Durante a participação no evento “Rota da Fruticultura”, no Tocantins — quarto maior produtor de abacaxi do Brasil —, Evangelista pôde observar o sistema produtivo local e colaborar na calibração dos modelos utilizados no novo Zarc.

Validação com produtores e especialistas regionais

Pela primeira vez, o Zarc Abacaxi foi submetido à validação junto a produtores, técnicos e representantes da cadeia produtiva, com reuniões realizadas virtualmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Sul. O objetivo foi adequar a ferramenta às realidades regionais antes da publicação oficial.

Fernando Barreto de Melo, gerente-executivo do Banco do Nordeste, avalia que a ferramenta representa uma conquista para a agricultura do Semiárido. “O Zarc reduz riscos e aumenta a viabilidade dos empreendimentos. Para as instituições financeiras, é mais uma garantia na concessão de crédito”, afirma.

No Amazonas, oitavo estado em produção de abacaxi, a engenheira-agrônoma Silvia Abreu, do Idam, também participou da fase de validação. Ela reforça que o Zarc será incorporado às ações de planejamento agrícola, elaboração de projetos de crédito e capacitação de técnicos. “É uma ferramenta fundamental para garantir sustentabilidade e segurança alimentar”, conclui.

Acesso gratuito à ferramenta

O Zarc Abacaxi está disponível gratuitamente por meio do Painel de Indicação de Riscos no site do Mapa, ou pelo aplicativo Zarc Plantio Certo, compatível com os sistemas Android e iOS.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio