A falta de capacidade e os gargalos logísticos nos principais portos brasileiros são os maiores desafios enfrentados atualmente pela exportação de café. O tema será debatido durante o painel “Desafios logísticos no abastecimento de café”, promovido pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) no 10º Coffee Dinner & Summit, que acontece no Royal Palm Hall, em Campinas.
Problemas na infraestrutura portuária
O diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, destaca que o esgotamento da infraestrutura vem causando atrasos constantes no embarque de cargas. No Porto de Santos, por exemplo, o tempo médio de espera para os navios atracarem chega a 41 horas, conforme informações da MSC Mediterranean Shipping. Os terminais portuários estão operando com seus pátios lotados, o que impede a entrada de novas cargas e gera mudanças de escalas e omissões nas embarcações.
Impactos financeiros no setor
Em abril de 2025, o setor deixou de embarcar 737.653 sacas de café de 60 kg, o equivalente a 2.236 contêineres, ocasionando um prejuízo de R$ 6,657 milhões devido a gastos inesperados com armazenagem, detentions e outras despesas logísticas. Desde junho de 2024, o acumulado de prejuízos com custos extras já chega a R$ 73,233 milhões, segundo levantamento do Cecafé.
Opinião dos principais atores do setor
Eduardo Heron enfatiza que o cenário desafiador gera custos logísticos muito elevados para os exportadores, reduzindo o repasse financeiro aos produtores. O Brasil, que historicamente repassa mais de 90% do valor Free on Board (FOB) ao cafeicultor, sente os impactos financeiros dessa situação.
Para Elber Justo, diretor-presidente da MSC Mediterranean Shipping do Brasil, é fundamental que a infraestrutura portuária acompanhe as demandas crescentes do mercado. Ele ressalta que, apesar de algumas medidas já implementadas, são necessárias ações adicionais, como ampliação dos acessos portuários por meio de dragagem e maior integração entre modais de transporte para melhorar a eficiência do escoamento.
Claudio Oliveira, diretor-presidente da Brasil Terminal Portuário (BTP), destaca que a movimentação de contêineres no Porto de Santos cresce continuamente, porém a capacidade dos terminais permanece a mesma há anos, resultando em operação acima de 85% da capacidade instalada – muito além do limite recomendado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de aproximadamente 63%. Segundo ele, esse desequilíbrio prejudica a competitividade do porto e do país.
Soluções em discussão
Para amenizar a crise, o Cecafé criou, em parceria com a startup ElloX Digital, o Boletim Detention Zero (DTZ), um indicador que mede os impactos logísticos no setor cafeeiro e serve como base para cobranças por investimentos públicos em infraestrutura.
O diretor-presidente da MSC afirma que a empresa está investindo na ampliação das soluções intermodais, incluindo transporte por caminhão, ferrovia e barcaça, conectando produtores do interior aos principais portos do país.
Claudio Oliveira reforça a necessidade urgente de ampliar a capacidade portuária, com a licitação de novas áreas para operação de contêineres e a dragagem do canal de acesso ao Porto de Santos para uma profundidade mínima de 17 metros, permitindo a entrada de navios maiores e modernos. Ele também ressalta a importância de melhorias nas rodovias e ferrovias para garantir a eficiência no escoamento das cargas. A BTP já investe cerca de R$ 2 bilhões para aumentar a capacidade de movimentação em até 2 milhões de TEUs por ano nos próximos anos.
Expectativas para o painel
O debate “Desafios logísticos no abastecimento de café” está marcado para o dia 4 de julho, às 11 horas, e contará com a participação de especialistas do setor, como Priscila Ceolin, da JDE Peet’s Brazil, e Casemiro Tércio, da 4Infra. O objetivo é fomentar a reflexão e apontar ações para melhorar o atual cenário, garantindo que a infraestrutura portuária esteja à altura da crescente demanda das exportações brasileiras de café.
Segundo Eduardo Heron, o mapeamento dos problemas e a criação de indicadores são passos importantes, mas é fundamental que os investimentos necessários sejam realizados o quanto antes para evitar que o escoamento da safra sofra ainda mais prejuízos.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio