Resistência de lagartas preocupa e exige nova estratégia dos produtores na fronteira agrícola

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Lagartas de difícil controle, como Spodoptera frugiperda e Helicoverpa zea, têm se mostrado cada vez mais adaptadas aos sistemas de cultivo, avançando por diversas regiões da fronteira agrícola brasileira. A avaliação é do pesquisador Eduardo Barros, da Supera Soluções Agronômicas, que atua nos estados da Bahia, Maranhão, Piauí, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Segundo o especialista, a perda de eficácia das biotecnologias e dos inseticidas tradicionais exige uma mudança de comportamento por parte dos produtores para evitar prejuízos significativos na produção de grãos.

Lagartas atacam estruturas reprodutivas das lavouras

Barros destaca que o principal risco está na subestimação do impacto econômico das lagartas que atacam diretamente as estruturas reprodutivas das plantas, como espigas de milho, vagens de soja e estruturas do algodão.

“A Spodoptera e a zea não estão apenas comendo folhas. Estão danificando o que o produtor comercializa: o produto final”, alerta o pesquisador.

Há registros de produtores que realizaram corretamente a adubação, o plantio com sementes de qualidade e o controle de doenças, mas negligenciaram o manejo das lagartas. Como resultado, tiveram perdas de até 10 a 15 sacas de soja por hectare.

Perda de eficácia das biotecnologias Bt, Cry e VIP

Tecnologias transgênicas como Bt, Cry e VIP, que antes auxiliavam no controle de lepidópteros, vêm perdendo eficácia diante da resistência desenvolvida pelas lagartas. Barros afirma que a quebra de resistência dessas tecnologias exige ações mais precisas e eficazes no manejo das pragas.

O avanço das infestações, que começou nos estados da Bahia, Maranhão e Piauí, hoje já se espalha por praticamente toda a área de cultivo de soja, milho e algodão, incluindo estados como Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Nova abordagem: conhecer o inimigo e antecipar o combate

Diante desse cenário, o especialista orienta que o primeiro passo para o produtor é aceitar que as tecnologias já não funcionam como antes.

“Hoje, há transgênicos que não oferecem mais proteção e inseticidas com eficácia reduzida. O monitoramento das lavouras se torna essencial para conhecer a praga e agir com antecedência”, afirma Barros.

Entre as estratégias recomendadas, está o uso de armadilhas com atrativos alimentares — os chamados “atrai-mata” — que ajudam a identificar precocemente a presença e o tipo de lagarta antes mesmo da emergência da cultura.

Segundo Barros, o foco deve estar no combate às mariposas adultas, antes da postura dos ovos. Produtos compostos por extratos vegetais e uma pequena concentração de inseticidas (2%) têm se mostrado eficazes nesse estágio inicial, ao atrair e eliminar as fêmeas, evitando o surgimento de grandes populações de lagartas.

Manejo com rotação de produtos e uso de agentes biológicos

O monitoramento constante também permite determinar o momento ideal para a aplicação de tratamentos mais específicos. Entre os métodos mais eficazes no controle de Spodoptera frugiperda e Helicoverpa zea, Barros destaca a rotação de inseticidas químicos com diferentes ingredientes ativos, associada ao uso de produtos biológicos, como os baculovírus.

“Esses vírus, devido à sua especificidade e potência, têm mostrado resultados altamente eficazes no controle dessas lagartas”, conclui o especialista.

A resistência das lagartas às biotecnologias e aos inseticidas tradicionais está exigindo dos produtores brasileiros uma mudança de postura, com foco em monitoramento, estratégias preventivas e o uso combinado de ferramentas químicas e biológicas para garantir a sanidade das lavouras e reduzir perdas econômicas.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio