Queda atípica nos preços preocupa triticultores do Sul do Brasil
Mesmo em plena entressafra, os preços do trigo seguem em queda nos principais estados produtores da região Sul, refletindo um cenário de baixa demanda, aumento da oferta e dificuldades nas negociações. A situação impacta diretamente a rentabilidade dos produtores, especialmente no Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Rio Grande do Sul: mercado pressionado e poucos negócios
No Rio Grande do Sul, a combinação de contratos renovados para o próximo trimestre, dólar em baixa e cotação internacional pressionada dificulta as compras pelos moinhos, que enfrentam margens apertadas. A safra passada ainda encontra alguma demanda para embarques em agosto, mas julho já está completamente comprometido. Os preços variam entre R$ 1.330 e R$ 1.430 por tonelada, sem novas referências claras.
Santa Catarina: excesso de oferta mantém preços estagnados
Em Santa Catarina, a chegada de trigo gaúcho e a sobra de sementes colaboram para manter o mercado parado e os preços deprimidos. Na região de Ijuí, o trigo panificação foi negociado a R$ 1.300, acrescido de R$ 140 de frete. Já os preços “na pedra” seguem estáveis há semanas: R$ 78,00/saca em Canoinhas e R$ 75,00 em Chapecó.
A estimativa nacional de produção está em 7,3 milhões de toneladas, abaixo das 7,89 milhões do ano passado. Se confirmadas a menor área plantada e a redução na produtividade, os preços podem reagir somente a partir de fevereiro de 2026.
Paraná: trigo importado pressiona valores e reduz margens
No Paraná, a forte presença de trigo importado da Argentina e do Paraguai, somada à fraca demanda interna, empurra os preços para baixo. Atualmente, os compradores aceitam no máximo R$ 1.450 CIF, enquanto vendedores pedem R$ 1.500 FOB. Para a próxima safra, os contratos indicam valores semelhantes entre outubro e novembro, com moinhos já abastecidos até setembro.
A produção paranaense deve ficar entre 2,5 e 2,8 milhões de toneladas, o que reforça a dependência do trigo externo. Segundo o Deral, o custo de produção está estimado em R$ 73,53/saca, o que reduz a margem de lucro do produtor para 7,03%, um índice positivo, mas em declínio.
Queda também atinge o mercado internacional
No cenário externo, o trigo também registra fortes perdas. Na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT), os preços encerraram a sessão com quedas expressivas, influenciadas principalmente pela fraca demanda pelo produto dos Estados Unidos e o avanço da colheita de inverno, que deve se intensificar nos próximos dias e ampliar a oferta global.
Exportações norte-americanas em baixa
Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), as inspeções de exportação de trigo na semana encerrada em 19 de junho totalizaram 254.782 toneladas, bem abaixo das 388.752 toneladas da semana anterior e das 344.652 toneladas no mesmo período de 2023. No acumulado do ano-safra (iniciado em 1º de junho), as inspeções somam 844.868 toneladas, contra 1.053.528 toneladas no ciclo anterior.
Rússia amplia previsão de produção
Outro fator que contribuiu para a queda foi a melhora nas estimativas da safra de trigo da Rússia. Analistas internacionais elevaram em 4,5 milhões de toneladas a projeção para 2025/26, que agora atinge 84,8 milhões de toneladas, superando as 81,3 milhões da safra anterior.
Cotações em Chicago em forte baixa
- Contrato para setembro: US$ 5,69 1/2 por bushel (queda de 14,00 centavos ou 2,39%)
- Contrato para dezembro: US$ 5,92 3/4 por bushel (queda de 13,25 centavos ou 2,18%)
Perspectivas
O mercado de trigo, tanto no Brasil quanto no exterior, atravessa um momento de incertezas, marcado por pressão de preços, margens reduzidas e excesso de oferta. Enquanto os produtores brasileiros enfrentam lucros cada vez menores, o mercado internacional sofre com baixa demanda e expectativas de colheitas robustas. A recuperação nos preços pode depender da redução de área plantada e de um eventual ajuste na oferta global ao longo dos próximos ciclos.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio