Agronegócio calcula perdas de até R$ 2 bilhões com tarifas de Donald Trump

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O agronegócio brasileiro pode perder até R$ 2 bilhões nos próximos meses com a entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos nacionais. O impacto atinge diretamente cadeias como carne bovina, café, manga e suco de laranja, que respondem por uma fatia expressiva das exportações para o mercado norte-americano. Com o novo cenário, frigoríficos interromperam a produção voltada aos EUA e exportadores de frutas e bebidas já avaliam redirecionar parte da carga ou absorver os prejuízos.

Somente no setor de carnes, cerca de 30 mil toneladas — avaliadas em mais de US$ 150 milhões — já foram produzidas e estão nos portos ou em trânsito. Com a tarifa adicional, os embarques se tornaram inviáveis, segundo a Associação das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). O Brasil, que já enfrentava taxa de 36% sobre a carne bovina, passará a enfrentar um custo total que supera 80% em tributos para acessar o mercado norte-americano.

A crise também afeta diretamente a fruticultura. A região do Vale do São Francisco, responsável por 90% da manga exportada pelo Brasil, relata uma “pane logística”, segundo representantes do setor. A safra, planejada com seis meses de antecedência, envolve 2.500 contêineres de frutas já colhidas e embaladas. Redirecionar para a Europa ou mercado interno não é uma opção viável, segundo os produtores, que temem o colapso de preços e a perda da produção ainda no campo.

Outro setor ameaçado é o de sucos cítricos. O Brasil é responsável por 70% de todo o suco de laranja importado pelos EUA. Com a nova tarifa, somada aos US$ 415 por tonelada já pagos atualmente, a operação se torna insustentável. No último ano, o país faturou US$ 1,3 bilhão com os embarques do produto aos americanos — que agora estão em risco. No café, a ameaça é semelhante. O Brasil responde por um terço de todo o consumo norte-americano. Em 2024, 8,2 milhões de sacas foram enviadas para os Estados Unidos, que não produzem café em escala comercial.

Diante do cenário, o governo brasileiro promoveu nesta terça-feira (15.07) uma rodada de reuniões com representantes da indústria e do agronegócio. O objetivo é construir uma estratégia conjunta para tentar adiar ou derrubar a medida antes de 1º de agosto. Entre as sugestões apresentadas pelas entidades exportadoras está a solicitação de prorrogação da tarifa para contratos já firmados e em andamento.

Integrantes do Comitê Interministerial de Negociação, criado por decreto presidencial, reconheceram os impactos da medida sobre o agro e reforçaram que o momento exige diplomacia ativa. O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin,  afirmou que a decisão americana é “equivocada” e que os próximos dias serão decisivos para sensibilizar o governo dos EUA. A avaliação do Executivo é que a tarifa não prejudica apenas o Brasil, mas também encarece a cadeia produtiva norte-americana — que depende de insumos agrícolas brasileiros para abastecer mercados como o de hambúrgueres, bebidas e frutas processadas.

Enquanto isso, produtores seguem em alerta. Para muitos, o problema não está no médio prazo, mas nas próximas semanas, já que parte da carga é perecível e o calendário de colheita está em andamento. “Ou se encontra uma solução rápida ou haverá perdas irrecuperáveis para o campo e a indústria”, alertou um dos representantes do setor durante o encontro em Brasília.

Fonte: Pensar Agro