Importação de combustíveis russos deve continuar, afirma Abicom
Mesmo diante das ameaças de tarifas de 100% por parte dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra países que mantêm relações comerciais com a Rússia, o Brasil deverá continuar importando combustíveis russos. A avaliação é de Sérgio Araújo, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), que considera os derivados de petróleo russos fundamentais para o equilíbrio da oferta global.
“Se o Brasil for taxado por manter negócios com a Rússia, ainda assim continuará comprando seus produtos. Não é simples substituí-los por fornecedores que consigam atender o mesmo volume”, afirmou Araújo.
Ameaças dos EUA e Otan pressionam cenário internacional
As possíveis sanções ganham força após declarações do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou, em 14 de julho, a intenção de impor tarifas de 100% à Rússia, caso um acordo de paz com a Ucrânia não seja firmado em 50 dias.
No dia seguinte, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou que países como Brasil, China e Índia também poderiam ser penalizados com tarifas semelhantes por manterem relações comerciais com a Rússia.
Dependência brasileira de diesel e gasolina importados
O alerta se intensifica ao considerar que o Brasil importa de 20% a 30% do diesel e entre 5% e 10% da gasolina que consome. Desde 2022, a Rússia tem ampliado sua participação nas exportações de gasolina ao Brasil, após restrições impostas pela Europa. No primeiro semestre de 2025, os combustíveis russos representaram 39,1% do volume total importado pelo país, seguidos pelos EUA, com 32,8%, segundo levantamento da StoneX.
Mercado busca alternativas, mas incertezas persistem
Bruno Cordeiro, analista da StoneX, afirma que o mercado ainda está cético quanto à concretização das medidas anunciadas por Trump. Porém, caso sejam confirmadas, distribuidoras brasileiras podem priorizar compras dos EUA.
Com a queda nos preços internacionais do petróleo desde o início do ano, o diferencial competitivo da Rússia diminuiu. Mesmo assim, Araújo alerta que depender exclusivamente do mercado americano pode não ser viável.
“A Europa já compra dos EUA, o que limita a disponibilidade para o Brasil. E, se houver retaliações brasileiras, o custo das importações pode subir significativamente”, explicou.
Impactos nas empresas e possíveis fontes alternativas
Segundo Frederico Nobre, gestor de investimentos da Warren, o Brasil pode enfrentar dificuldades logísticas caso não haja exceções nas tarifas americanas. Nesse cenário, a Petrobras surge como alternativa, por já dominar a maior parte do mercado.
Além disso, Araújo destaca que mercados como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuwait podem atender parte da demanda brasileira, embora ainda insuficientes para suprir os mais de 1 milhão de metros cúbicos de diesel importados mensalmente da Rússia.
Em caso de tarifas, os preços internos devem subir, já que a Petrobras tem praticado valores abaixo da paridade de importação.
Distribuidoras mais expostas às sanções
Entre as distribuidoras, a Vibra é a principal importadora de diesel russo, e por isso pode ser a mais afetada por eventuais sanções secundárias, segundo João Abdouni, analista da Levante Inside Corp. Raízen e Ultrapar aparecem em seguida.
Apesar disso, Abdouni minimiza os efeitos sobre as companhias. “Pode haver uma leve perda de margem se o diesel russo for retirado da equação, mas as empresas buscam rapidamente outras rotas de abastecimento. O impacto deve ser limitado”, concluiu.
Cenário ainda incerto
Para Araújo, da Abicom, o impacto das possíveis sanções ainda depende de uma definição clara das regras. “A poeira precisa assentar para que possamos avaliar com exatidão as consequências. Por enquanto, o cenário traçado ainda pode não se concretizar integralmente.”
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio