As fortes chuvas registradas em junho no Rio Grande do Sul causaram atraso na semeadura do trigo, sobretudo na metade norte do estado, principal região produtora. Lá, a precipitação acumulada chegou a quase três vezes a média histórica para o mês. Segundo o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), a janela oficial para o plantio vai até 31 de julho, mas na metade norte o período preferencial termina em 10 de julho, devido à sucessão da soja no verão. O pesquisador da Embrapa Trigo, Osmar Conte, reforça que “o importante é semear bem, com todos os cuidados fitossanitários, e não apenas semear cedo”.
Prejuízos causados por excesso de chuva e baixa luminosidade
Segundo dados da Emater/RS, menos de 40% da área prevista estava semeada em junho, afetada por solos encharcados que impediram o trabalho das máquinas. Em Passo Fundo, a precipitação chegou a 425 mm, contra uma média histórica de 158 mm. A baixa insolação, 36% abaixo da média, aliada à umidade elevada, prejudicou o desenvolvimento vegetativo das plantas já implantadas, limitando o crescimento e dificultando a aplicação de tratos culturais como herbicidas, fungicidas e adubação de cobertura.
Previsão climática para julho é favorável, mas com variações
De acordo com Aldemir Pasinato, analista da Embrapa Trigo, o tempo seco até meados de julho favorece a retomada da semeadura. Apesar da neutralidade climática (sem El Niño ou La Niña), o inverno será marcado por períodos alternados de chuva e seca, com ondas de frio que podem se estender até a primavera. O boletim do INMET indica chuvas próximas ou abaixo da média para Paraná e Santa Catarina, mas acima da média para o Rio Grande do Sul. A precipitação anual histórica do RS varia entre 1500 a 1900 mm, concentrada no inverno e primavera.
Cuidados com solo encharcado e riscos de doenças
O solo encharcado eleva o risco do mosaico comum do trigo, doença que pode reduzir em até 50% o rendimento de grãos. A infecção precoce, associada a chuvas próximas a 200 mm no mês de semeadura, compromete o desenvolvimento das plantas. Os sintomas, que aparecem cerca de um mês após a infecção, manifestam-se em manchas verdes e amarelas nas folhas, com distribuição irregular, especialmente em áreas com drenagem deficiente. A recomendação atual é o uso de cultivares resistentes ao mosaico.
Além disso, o excesso de chuva intensifica a erosão hídrica causada por enxurradas, principalmente quando a semeadura é feita morro acima e morro abaixo, prática que aumenta o arraste de sementes e nutrientes. O pesquisador José Eloir Denardin recomenda a semeadura em contorno e a construção de terraços agrícolas para conter a enxurrada, reduzir a velocidade do escoamento e aumentar a infiltração da água no solo.
Estratégias para adubação nitrogenada em cenário incerto
A adubação nitrogenada deve ser planejada cuidadosamente. A recomendação geral é aplicar de 60 a 120 kg de N por hectare, divididos em três etapas: na semeadura, entre duas folhas e início do perfilhamento, e na fase reprodutiva. Em caso de chuvas intensas após aplicação, que provoquem escoamento superficial, o produtor deve compensar a dose nas aplicações seguintes.
Atenção às geadas e doenças fúngicas
O inverno rigoroso aumenta o risco de geadas, especialmente no espigamento do trigo, fase crítica que pode levar à morte das plantas. O atraso na semeadura pode ajudar a minimizar perdas causadas por geadas tardias previstas para o final de agosto e início de setembro.
O excesso de umidade e baixa insolação exigem cuidados redobrados no controle de doenças fúngicas, como manchas foliares (marrom, amarela e das glumas). A rotação de culturas, aliada ao tratamento de sementes e uso de cultivares resistentes, é fundamental para reduzir a incidência dessas doenças. Para aprofundar o conhecimento, o produtor pode consultar as publicações da Rede de Ensaios Cooperativos em Trigo, que avalia a eficiência dos fungicidas disponíveis no mercado.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio