Crédito privado ultrapassa recursos oficiais do Plano Safra
Em meio a desafios como a gripe aviária e suas possíveis consequências para a produção e exportação de proteínas, o agronegócio brasileiro passa por uma transformação significativa em sua forma de financiamento. Dados indicam que o crédito privado no setor já soma mais de R$ 1,2 trilhão em estoque, superando em mais do que o dobro os R$ 516,2 bilhões liberados pelo Plano Safra na temporada 2025-2026.
Mudança de estratégia impulsionada por ambiente desafiador
Diante de um cenário econômico volátil, taxas de juros elevadas, risco sanitário e restrições orçamentárias do governo, produtores rurais têm buscado cada vez mais alternativas privadas e estruturadas no mercado de capitais. Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, destaca que essa mudança demonstra o amadurecimento financeiro do setor e sua resposta estratégica a um contexto incerto.
Crescimento dos principais instrumentos privados
Os dados mais recentes mostram avanço expressivo em vários instrumentos:
- Cédulas de Produto Rural (CPR): estoque de R$ 499,18 bilhões em abril de 2025, alta de 50% em relação a abril de 2024 (R$ 332,30 bilhões).
- Letras de Crédito do Agronegócio (LCA): R$ 559,94 bilhões, aumento de 19% comparado ao ano anterior (R$ 469,01 bilhões).
- Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA): R$ 155,83 bilhões, crescimento de 13%.
- Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA): R$ 34,35 bilhões, alta de 6%.
Esses números evidenciam a confiança do setor em instrumentos que oferecem segurança jurídica e operações simplificadas.
Queda acentuada nos Fundos de Investimento nas Cadeias do Agronegócio (Fiagro)
Contrariando a tendência geral, os Fiagros sofreram uma forte retração, com patrimônio líquido caindo 91,3% em um ano, de R$ 498 milhões em abril de 2024 para apenas R$ 43 milhões em abril de 2025. Eyng atribui essa queda à aversão ao risco dos investidores, incertezas econômicas e sanitárias, além de desafios regulatórios e operacionais para o instrumento ganhar escala.
Novas oportunidades: Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs)
Além dos instrumentos tradicionais, o mercado de capitais vê avanço nos FIDCs voltados ao agronegócio. A Multiplike anunciou a disponibilidade de R$ 7 bilhões para financiamento por meio desses fundos, que atendem grandes produtores e empresas do setor. Eyng destaca a versatilidade dos FIDCs, que possibilitam antecipação de recebíveis e obtenção de capital de giro, garantindo financiamento eficiente e seguro para as cadeias produtivas.
Diversificação é chave para resiliência do setor
A crescente adoção de alternativas privadas ao crédito tradicional revela uma evolução na gestão financeira do agronegócio brasileiro, com maior profissionalização e uso intenso do mercado de capitais. Segundo Volnei Eyng, essa diversificação fortalece a resiliência do setor, especialmente em um cenário econômico e sanitário desafiador.
Este movimento reforça que o agronegócio brasileiro está em transformação, ampliando suas fontes de financiamento para garantir sustentabilidade e crescimento diante de um ambiente cada vez mais complexo.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio