Tributação aperta e força mudança
O agronegócio brasileiro está vivendo uma transformação discreta, mas de grande impacto — longe das lavouras e dentro das engrenagens financeiras que mantêm o setor de pé. Com a elevação da carga tributária sobre instrumentos clássicos, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), e o IOF de 3,5 % sobre operações internacionais, produtores e empresas precisam adotar estratégias mais inteligentes para proteger a margem líquida.
Operação triangular: cripto como ponte
Uma das respostas encontradas foi a popularização das chamadas operações triangulares com criptomoedas. Funciona assim:
- Fintech ou corretora adquire a commodity já pronta.
- Pagamento ao produtor é feito em reais, no Brasil, sem exposição a câmbio nem volatilidade.
- Liquidação internacional é concluída em criptoativos ou tokens por agentes fora do país, em jurisdições mais “amigáveis”.
O produtor recebe e segue operando; o risco cambial e a complexidade ficam com o intermediário que domina o mercado cripto.
Eficiência fiscal impulsiona adoção
- O uso de cripto já representa até 20 % dos fluxos financeiros em cadeias específicas, segundo análises internas do mercado.
- Entre janeiro e setembro de 2024, R$ 247,8 bilhões circularam em criptoativos no país, conforme dados da Receita Federal.
- A consultoria Chainalysis coloca o Brasil entre os dez maiores mercados globais e projeta 120 milhões de usuários até 2030.
Para muitos, não se trata de “ser moderno”, mas de reduzir custos e acelerar ciclos em canais ainda menos onerados pela tributação, mas já dotados de rastreabilidade.
Regulação avança, compliance é essencial
O Banco Central monitora o tema de perto, enquanto a Receita Federal exige reportes mensais das plataformas. Um marco regulatório mais robusto é esperado até 2026. Por isso, empresas, produtores e cooperativas que pretendem continuar usando cripto de forma sustentável precisam investir desde já em:
- Compliance fiscal
- Escrituração adequada
- Parceiros especializados tanto no agro quanto em ativos digitais
Ferramenta de defesa, não modismo
Para o CEO da Cyklo Agritech Aceleradora, Pompeo Scola, as operações triangulares demonstram a rapidez com que o agro se adapta a cenários adversos. “O produtor rural brasileiro é um dos agentes mais ágeis do país. Agora, além de semear com precisão, ele liquida com precisão e inteligência fiscal”, afirma.
O que vem pela frente
Com margens pressionadas e regulação em evolução, o novo ciclo de liquidação via criptomoedas tende a ganhar força. A combinação de conhecimento tecnológico, organização jurídica e estratégia tributária será decisiva para quem quiser manter competitividade em um ambiente cada vez mais complexo — e conectado.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio