Exportações disparam e colocam o Brasil entre os 3 maiores produtores mundiais

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O Brasil encerrou o primeiro semestre de 2025 com uma performance surpreendente nas exportações de feijão. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o país embarcou 137 mil toneladas do grão entre janeiro e junho, o que representa um salto de 89% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse crescimento expressivo ocorre em meio a um cenário doméstico de queda nos preços, avanço da colheita e excesso de oferta, refletindo os contrastes de uma cadeia produtiva que busca se consolidar no mercado internacional, mas ainda enfrenta desafios estruturais dentro das fronteiras.

Os dados reforçam o protagonismo crescente do Brasil no comércio global de feijão. O país, que já figura entre os três maiores produtores do mundo, ao lado de Índia e Myanmar, vem ampliando sua presença internacional em meio à demanda aquecida em mercados como Índia, Egito e países africanos.

Apenas em 2024, as exportações brasileiras somaram 217 mil toneladas, um recorde histórico, e a tendência de alta se confirma em 2025. O avanço das vendas externas também tem impacto na balança comercial: a receita gerada pelo feijão contribui para diversificar as fontes de renda do agronegócio, especialmente entre pequenos e médios produtores.

No entanto, o otimismo no front externo contrasta com o aperto do mercado doméstico. De acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os preços de referência para os principais tipos de feijão — carioca e preto — estão em queda, pressionados pela maior disponibilidade de produto e por uma demanda interna enfraquecida. As desvalorizações são mais intensas nos grãos comerciais, enquanto lotes de qualidade superior (nota 9 ou mais) têm conseguido manter certa resistência por meio de armazenamento estratégico por parte dos produtores.

Essa diferença de comportamento entre as categorias revela uma prática cada vez mais comum no campo: reter produto à espera de melhor valorização. Mas essa estratégia tem limites. A terceira safra já avança em regiões produtoras como Goiás, Minas Gerais e Paraná, o que aumenta ainda mais a oferta. A expectativa de entrada de novos volumes no mercado, somada a relatos de focos de doenças em algumas lavouras, pode mexer novamente com os preços e ampliar a volatilidade nas próximas semanas.

Além da oscilação de preços, o setor lida com desafios logísticos e estruturais. Diferente de outras commodities com cadeias mais organizadas, a produção de feijão no Brasil é caracterizada pela pulverização de pequenos produtores, muitas vezes com acesso limitado a assistência técnica, crédito ou infraestrutura de armazenagem. A falta de uma política integrada para a cadeia do feijão dificulta o aproveitamento pleno das oportunidades no mercado externo — onde a exigência por padronização, rastreabilidade e regularidade nas entregas é cada vez maior.

O potencial, no entanto, é evidente. A produção nacional gira em torno de 3 milhões de toneladas por ano, com cultivo espalhado por todas as regiões do país e três safras anuais. Isso permite abastecimento constante do mercado interno e margem para exportações em ritmo crescente. A diversificação de mercados — especialmente com a abertura de canais na Ásia, no Oriente Médio e na África — amplia a resiliência da cadeia, mas exige profissionalização do setor, investimentos em tecnologia e maior integração entre produtores, cooperativas e governo.

Enquanto isso, o comportamento do consumidor doméstico também tem impacto. Com a perda de poder de compra das famílias nos últimos anos, o feijão — alimento tradicional e nutritivo — perdeu espaço no prato do brasileiro. Isso ajuda a explicar a retração da demanda no mercado interno, mesmo com preços em queda.

A combinação entre exportações em alta, queda dos preços internos e pressão da colheita coloca o setor de feijão diante de uma encruzilhada. De um lado, há espaço concreto para crescer no mercado global. De outro, o excesso de oferta, a desorganização da cadeia e o consumo doméstico em declínio impõem limites. A solução, segundo especialistas, passa por integração de políticas públicas, incentivo à armazenagem, crédito orientado e fortalecimento institucional do setor — com foco não apenas em vender mais, mas em vender melhor.

Fonte: Pensar Agro