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Motta se irrita com ataques, STF pede gesto a governo, e Gleisi sai em defesa de chefe da Câmara

Crédito - Divulgação/STF

RASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), fez chegar ao Palácio do Planalto, nesta quarta-feira (2), sua irritação com as críticas de que tem sido alvo nas redes sociais, em mais um capítulo da crise que abala a relação do governo Lula (PT) com a cúpula do Congresso Nacional.

Em Portugal para o 13º Fórum de Lisboa, Motta reclamou especialmente do fato de Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, terem falado em quebra de acordo sobre a tramitação do aumento de alíquotas IOF (Imposto sobre Operação Financeira). O deputado nega que tenha se comprometido com a proposta do governo.

Também em Lisboa, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) sugeriram a interlocutores do governo um aceno ao presidente da Câmara, na tentativa de restabelecimento de um diálogo com Motta.

Alertada por emissários do governo sobre esse descontentamento e já contrariada com o teor de vídeos contrários ao presidente da Câmara, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) disse repudiar os ataques a Motta.

Nas redes, ela disse que a disputa política faz parte da democracia, mas que “nada disso autoriza os ataques pessoais e desqualificados nas redes sociais contra o presidente da Câmara”.

“Não é assim que vamos construir as saídas para o Brasil, dentre as quais se destaca a justiça tributária”, afirmou.

Gleisi e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), já tinham ouvido queixas do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), com quem se reuniram na noite de segunda-feira (30). Assim como a ministra, Guimarães defendeu Motta, afirmando que o revés sofrido pelo governo na votação do IOF não pode ser usado como justificativa para ataques pessoais.

“Reitero minha solidariedade ao presidente Hugo Motta, que, como qualquer representante em uma democracia plena, tem o direito de defender suas convicções”, afirmou Guimarães.

Aliados de Motta afirmam que as declarações embutem um medo do governo de novas derrotas na Câmara, onde tramitam pelo menos seis pautas de interesse governista.

Participante do fórum, o ministro-chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias, engrossou o esforço conciliatório a ser conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. O magistrado é o relator da ação protocolada pelo governo com o objetivo de reativar o decreto sobre o IOF.

Em Lisboa, onde conversou com ministros da corte, Messias elogiou a capacidade de diálogo de Motta e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), ambos responsáveis pela inclusão da derrubada do decreto em pauta sem que o governo tenha sido informado.

“Tenho certeza que todos nós, em conjunto, com a liderança do presidente Lula, que já sinalizou que deve ter um encontro com os dois no retorno do [encontro dos] Brics, nós vamos encontrar uma saída”, disse Messias.

O ministro do STF Gilmar Mendes, com quem Messias conversou, foi um dos que propuseram uma conciliação.

No Brasil, no entanto, Lula classificou como “absurda” a decisão do presidente da Câmara de colocar em votação a derrubada do decreto do aumento do imposto, alegando que houve descumprimento de acordo.

“O erro, na minha opinião, foi o descumprimento de um acordo, que tinha sido feito no domingo [8 de junho] à meia-noite na casa do presidente [da Câmara] Hugo Motta. Lá estavam vários ministros, deputados, o ministro [Fernando] Haddad com sua equipe e, quando chega na terça-feira, o presidente da Câmara tomou uma decisão que eu considerei absurda”, disse o petista, durante entrevista na Bahia.

O projeto que susta os decretos foi aprovado pela Câmara por 383 votos favoráveis e 98 contrários. No plenário do Senado, a aprovação foi simbólica, ou seja, sem a contagem de votos.

Lula também disse que não há ruptura. “O presidente da República não rompe com o Congresso”.

As declarações do petista acentuaram a irritação de Motta, segundo relato de aliados do presidente da Câmara. Apesar disso, interlocutores do deputado afirmam que a decisão de levar o tema à pauta conferiu a ele visibilidade nacional, ainda que ele receba a pecha de traidor nas redes sociais.

De acordo com relatos, Motta reforçou a aliados em Lisboa, após a entrevista, que não firmou nenhum compromisso em torno dos textos, mas que não iria contestar o presidente da República nas redes sociais.

Sua relação com o governo azedou após ele informar à noite, pelas redes sociais, a decisão de submeter o decreto à votação já no dia seguinte. Embora tenha conversado com integrantes do governo, Motta não avisou que essa era sua intenção. Segundo aliados, Lula encarou esse comportamento como uma traição. Procurado, o presidente da Câmara não se manifestou.

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