Uma pesquisa realizada no Acre demonstrou que é possível cultivar cafés da espécie Coffea canephora (clonais) no Vale do Juruá sem a necessidade de irrigação, aproveitando as condições naturais de solo e clima locais. O estudo foi conduzido pela Embrapa Café em parceria com a Embrapa Acre, Universidade Federal do Acre (UFAC), Instituto Federal do Acre, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre. Os resultados foram publicados recentemente no documento “Cultivo de cafeeiros clonais em condições de sequeiro no Vale do Juruá, Acre”.
Variedades clonais impulsionam a cafeicultura amazônica
Segundo o chefe-geral da Embrapa Café, Antonio Fernando Guerra, as variedades clonais são o principal motor da revolução da cafeicultura na Amazônia nos últimos 15 anos. Ele destaca que o Norte do Brasil vem ganhando destaque na produção de café canéfora graças ao uso de tecnologias modernas, especialmente cultivares clonais superiores desenvolvidas para as condições locais de solo e clima, principalmente em Rondônia. Essa expansão tem garantido retorno econômico e bem-estar social às famílias da região, com foco na sustentabilidade.
Testes realizados no Vale do Juruá apresentam resultados promissores
O pesquisador Marcelo Curitiba Espindula, da Embrapa Café, explica que o sucesso da cafeicultura em Rondônia motivou a experimentação dos clones no Acre. O cultivo foi implantado em 2017 na Fazenda Experimental da UFAC – Campus Floresta, onde dez clones híbridos desenvolvidos pela Embrapa para a Amazônia foram avaliados.
Entre 2019 e 2022, foram realizadas quatro colheitas que registraram uma média geral de 77 sacas por hectare. Alguns clones superaram a marca de 100 sacas por hectare em todas as colheitas. Espindula ressalta que é esperado que a produtividade diminua ao longo do ciclo de dez safras. Os clones que mais se destacaram na região foram BRS 2336, BRS 3210, BRS 1216, BRS 3137 e BRS 3213.
Diversidade genética e características adicionais influenciam escolha das cultivares
O pesquisador alerta que a produtividade não deve ser o único critério para seleção das cultivares. É fundamental considerar o porte da planta, especialmente se a colheita for mecanizada, além da resistência a pragas e doenças e o ciclo de maturação dos frutos.
Ele lembra ainda que estudos realizados ao longo de mais de 40 anos indicam a importância de não restringir o plantio a poucos clones comerciais. Essa recomendação baseia-se na necessidade de polinização cruzada, sincronia de florescimento e estabilidade na produção, além da segurança fitossanitária. Plantios com baixa diversidade genética correm maiores riscos de danos causados por pragas e doenças.
Cultivo em condições de sequeiro é alternativa para áreas remotas
O estudo destacou que o cultivo de café clonal sem irrigação pode ser uma solução viável para agricultores de áreas distantes dos centros urbanos, com difícil acesso e baixa disponibilidade de energia elétrica para sistemas de irrigação. Além disso, o custo elevado de equipamentos irrigadores, devido à distância dos centros produtores no Centro-Sul do Brasil, dificulta a implantação da irrigação nessas regiões.
Irrigação permanece importante para áreas de fácil acesso
Apesar da viabilidade do cultivo em sequeiro, os pesquisadores recomendam que a irrigação não seja descartada em localidades com melhor infraestrutura. O uso da irrigação minimiza riscos climáticos, aumenta a eficiência na aplicação de insumos e fertilizantes, e contribui para a elevação da produtividade das lavouras.
Em resumo, a pesquisa reforça o potencial do Vale do Juruá para a produção de café canéfora de forma sustentável, especialmente em áreas remotas, destacando a importância da diversidade genética e do manejo adequado para garantir resultados econômicos e ambientais positivos.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio