
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) inicia nesta segunda-feira (28) os interrogatórios dos réus do chamado “núcleo 3” da trama golpista que visava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As oitivas buscam esclarecer a participação de militares e um agente da Polícia Federal no plano que previa inclusive o sequestro do ministro Alexandre de Moraes, relator das ações no Supremo, informa o jornal O Globo.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), esse núcleo era composto majoritariamente por integrantes da elite do Exército, conhecidos como “kids pretos”. Eles são acusados de elaborar estratégias para pressionar o Alto Comando da Força a aderir à tentativa de golpe de Estado após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas em 2022. O grupo também teria planejado o sequestro de Moraes e implementado ações de monitoramento e intimidação de autoridades.
Generais e militares na mira – Entre os primeiros a prestar depoimento está o general da reserva Estevam Theophilo, que era comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter). De acordo com a denúncia da PGR, ele “aceitou coordenar o emprego das forças terrestres conforme as diretrizes do grupo”.
Também serão ouvidos nesta etapa os militares Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo, acusados de liderar as ações de campo, como o plano batizado de “Copa 2022”, destinado à vigilância de Alexandre de Moraes. A PGR sustenta que o grupo operava com o objetivo de “monitorar e neutralizar autoridades públicas”.
Outros cinco militares envolvidos, ainda segundo a acusação, foram responsáveis por manobras para convencer o Alto Comando do Exército a apoiar a ruptura institucional. Todos prestarão depoimento nesta fase do processo.
Infiltrado na segurança de Lula – O único civil do núcleo 3 é o policial federal Wladimir Soares, que integrou a equipe de segurança de Lula durante a transição presidencial. A PGR afirma que ele teria se colocado à disposição para participar da ação golpista.
As defesas dos acusados negam qualquer envolvimento em plano de golpe e afirmam que seus clientes não participaram de nenhuma conspiração contra o Estado Democrático de Direito.
Outros núcleos da trama golpista – O processo contra Jair Bolsonaro e outros sete réus está mais avançado e se refere ao chamado “núcleo 1”, considerado o centro decisório da trama. Essa ação encontra-se na fase de alegações finais e poderá ser julgada até setembro pelo Supremo.
Na última semana, foram encerradas as oitivas de testemunhas de todos os quatro grupos investigados. Na quinta-feira (25), a Primeira Turma ouviu os réus dos núcleos “operacional” (núcleo 2) e “desinformação” (núcleo 4). Durante uma das audiências, o general da reserva Mario Fernandes confirmou a autoria do texto chamado “Punhal Verde e Amarelo”, que, segundo a Polícia Federal, delineava cenários para o assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Moraes.
Na ocasião, Fernandes declarou que o texto era uma “análise individual”, feita por hábito, e que não se tratava de um plano real. No dia seguinte, sua defesa reforçou ao Supremo que “o general não confessou o plano de matar ninguém” e que os depoimentos comprovaram que o documento nunca foi enviado a qualquer destinatário.
Acusação contra Paulo Figueiredo ainda aguarda análise – Um quinto núcleo também é investigado, composto exclusivamente pelo jornalista Paulo Figueiredo, acusado de vazar documentos com o intuito de pressionar o Alto Comando do Exército. A denúncia contra ele, no entanto, ainda não foi avaliada pela Primeira Turma do STF. Figueiredo reside nos Estados Unidos, não respondeu à citação e não apresentou advogado para representá-lo na ação.
Fonte: Brasil 247