O Brasil pode enfrentar novos desafios no campo com a ampliação das sanções da União Europeia contra a Rússia, especialmente no que diz respeito à exportação de fertilizantes nitrogenados, como a ureia. Embora o país não esteja diretamente envolvido nas restrições, os efeitos indiretos preocupam o setor produtivo, já que aproximadamente 1,5 milhão de toneladas de ureia russa são importadas anualmente pelo Brasil, insumo fundamental para a agricultura nacional.
A ureia é um dos fertilizantes mais utilizados nas lavouras brasileiras, principalmente nas culturas de milho, cana-de-açúcar e café, por seu alto teor de nitrogênio – elemento essencial para o crescimento e produtividade das plantas. Com o risco de encarecimento ou redução na oferta global, agricultores podem ter dificuldades para planejar a próxima safra, o que acende um sinal de alerta em relação à estabilidade dos preços e ao custo de produção no campo.
Hoje, o Brasil consome cerca de 6 milhões de toneladas de ureia por ano, sendo mais de 80% desse volume importado, com destaque para países como Rússia, China e Irã. A dependência externa, que já preocupa há anos, tende a se tornar um gargalo ainda mais sensível diante de tensões geopolíticas, mudanças logísticas ou dificuldades de financiamento internacional.
Além do impacto direto sobre a lavoura, há também efeitos em cascata. O aumento do custo dos fertilizantes pode pressionar os preços dos alimentos, influenciando a inflação e o custo de vida das famílias. No campo, o produtor tende a pagar mais caro por um insumo essencial e, por vezes, enfrenta incertezas na hora de fechar contratos e planejar o manejo nutricional das culturas.
Diante desse cenário, especialistas defendem medidas mais firmes para reduzir a vulnerabilidade. Isso inclui diversificar os fornecedores internacionais, investir na produção nacional de fertilizantes nitrogenados — como fábricas movidas a gás natural —, além de incentivar o uso de tecnologias alternativas, como fertilizantes organominerais e fixação biológica de nitrogênio.
Fonte: Pensar Agro