O agronegócio brasileiro acompanha com preocupação os impactos da nova política tarifária dos Estados Unidos, que anunciou para primeiro de agosto aumento de 50% nas taxas de importação. A medida, anunciada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, ameaça a competitividade de segmentos fundamentais da indústria e das exportações do agronegócio.
Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base em estudos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de outras instituições, indica que os efeitos serão negativos para todos os envolvidos — especialmente para os próprios Estados Unidos. Segundo a pesquisa, o tarifaço pode causar uma retração de 0,37% no PIB americano, contra uma queda estimada de 0,16% no produto interno bruto do Brasil e da China. O comércio global, por sua vez, pode perder o equivalente a US$ 483 bilhões, ou 2,1% de seu volume. Em reais, com o dólar cotado a R$ 5,57, essa perda equivale a cerca de R$ 2,69 trilhões.
A análise mostra ainda a relevância do mercado norte-americano para segmentos-chave da economia brasileira. No setor de aeronaves e embarcações, por exemplo, 22,1% do faturamento bruto depende dos Estados Unidos. A indústria da madeira tem 17% de suas receitas atreladas ao mercado americano; a metalurgia, 10,1%; máquinas e equipamentos, 4,8%; e a indústria de transformação, 2,6%.
Só na cadeia pecuária a avaliação é de que o Brasil pode perder US$ 1,3 bilhão em exportações, apenas no segundo semestre de 2025 caso a sobretaxa de 50% dos Estados Unidos seja confirmada a partir de agosto, estima a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Ao longo de 2026 e dos anos seguintes, as perdas podem ser de, ao menos, US$ 3 bilhões anualmente.
Mesmo com esses dados, o ambiente político interno impediu avanços em uma agenda coordenada entre governo e setor produtivo. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA), por exemplo, optou por não participar da última reunião promovida em Brasília, alegando falta de foco técnico e excesso de disputas ideológicas. Em nota (leia aqui), a entidade afirmou que o Brasil voltou às manchetes internacionais “não por suas oportunidades, mas por suas crises políticas internas”.
Rezende destaca que a confiança do investidor externo também está em jogo. “O agronegócio brasileiro é um pilar da segurança alimentar global. Mas, se o país se tornar um território de incertezas, quem perde é o produtor rural, que precisa de estabilidade para planejar safras, investir em tecnologia e acessar novos mercados”.
O presidente do IA reforça a necessidade de uma atuação coordenada para reverter as tarifas. “É do interesse dos Estados Unidos manter laços com o Brasil em setores estratégicos como alimentos, energia e biocombustíveis. Nossa relação é de complementaridade, não de competição. Precisamos fazer isso valer à mesa de negociação, com base técnica e sem retórica política”.
Diante do impasse, entidades como a Abipesca já alertaram para o risco de colapso em determinadas cadeias produtivas. O setor de pescados, por exemplo, exporta mais de 70% de sua produção para os Estados Unidos e teme perdas imediatas. A entidade estima que mais de 20 mil empregos diretos e cerca de 4 milhões de pessoas envolvidas na cadeia possam ser afetados pela tarifa de 50%.
Para Rezende, o Brasil precisa agir rápido e com maturidade institucional. “A economia não pode ser refém de narrativas políticas. O produtor rural faz sua parte no campo. Agora é hora de o Estado cumprir seu papel nas relações internacionais”.
Fonte: Pensar Agro