Tarifaço ameaça o agro brasileiro, locomotiva da economia

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Legenda: O mel de abelha é um dos produtos do agro cearense exportados para os EUA e que já sofre prejuízo por causa do tarifaço de Trump Foto: Antônio Rodrigues / SVM

Locomotiva do trem da economia brasileira, cujo Produto Interno Bruto, em 2024, alcançou R$ 11,7 trilhões, dos quais a agropecuária ela respondeu por 23,2%, ou seja, a lavoura e a pecuária produziram, no ano passado, o equivalente a R$ 2,72 trilhões. Tamanha performance foi possível pela competência dos seus pequenos, médios e grandes produtores, que, investindo ainda mais em tecnologia e inovação, consolidaram a liderança do Brasil nas principais áreas do agro mundial.  

Um recente estudo do Insper revela:  

“Em diversas commodities como soja, algodão, carne bovina, suco de laranja, entre outras do agro, (o Brasil) já é o maior país exportador do mundo, considerando apenas países, e não blocos econômicos como a União Europeia. Nessa categoria, desde 2023 o Brasil superou os EUA, seu maior concorrente no comércio internacional de alimentos.” 

Estarão o governo norte-americano e seu presidente Donald Trump com inveja do Brasil, a tal ponto de impor uma tarifa extravagante e inexplicável de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para lá? Está claro que não se trata de inveja, pois a razão do tarifaço é política, e esta coluna se dispensa de argumentações a respeito, pois o que está em jogo é a possibilidade de ser rompida, com gravíssimas consequências para os dois lados, a até agora perfeita relação comercial que há 200 anos mantêm Brasil e Estados Unidos. 

Hoje, por exemplo, a fruticultura brasileira já encara uma tarifa pré-existente de 10% para entrar no mercado consumidor norte-americano. Ora, acrescentar a essa taxa mais uma de 50% por motivação política é ferir as boas normas do comércio internacional, como estão a dizer, pela imprensa, juristas nacionais e estrangeiros. 

A abertura deste texto faz, de propósito, referência aos grandes números do agro brasileiro, porque este é o setor que, na região Nordeste, será o mais severamente apenado pela decisão de Trump – tanto do ponto de vista da economia quanto do social: produtores nordestinos de manga, mel de abelha e pescado, por exemplo, amargarão prejuízos superiores a R$ 2,5 bilhões. Pior: desempregarão, pelo menos, 50 mil trabalhadores formais, com careira assinada, e aqui está a gravidade do problema. 

Saiamos do agro e ingressemos na indústria. Além produtos semiacabados, como as placas de aço fabricadas pela usina siderúrgica da ArcelorMittal no Complexo do Pecém, a indústria do Brasil exporta para os Estados Unidos produtos de valor agregado, como café, máquinas, motores e os aviões da Embraer. É o estrago que haverá nesses setores que está a mobilizar hoje a liderança do empresariado brasileiro da indústria, do comércio, do agro e, também, do serviço — os bancos em posição de destaque – no sentido de pressionar o governo a buscar entendimento com sua contraparte americana. Esse tarifaço fará muito mal aos dois lados, como asseguram os empresários, os economistas e os altos funcionários do governo de lá e de cá.  

O dia primeiro de agosto – a sexta-feira da próxima semana – aproxima-se na velocidade do medo. Piauienses e cearenses já estão tentando abrir novos mercados para o mel de abelha e o filé de tilápia que produzem; os produtores de manga fazem o mesmo, mas encontram uma barreira na Europa, onde os agricultores, principalmente os da França, erguem-se e mantêm-se erguidos contra a importação de produtos da agropecuária brasileira. Mas aqui o motivo é outro: os agropecuaristas europeus, os franceses em primeiro lugar, não sabem produzir a baixo custo, como os brasileiros, e é por isto, só por isto, que pressionam o presidente Emmanuel Macron a não aprovar o Acordo de Livre Comércio do Mercosul com a União Europeia. Pressão semelhante fazem também os agricultores holandeses, pelo mesmo motivo.  

O presente do agro brasileiro é muito bom, mas o seu futuro, que também é muito promissor, dependerá de como o governo de Donald Trump tratará a relação comercial do seu país com o governo do presidente Lula.  

Por enquanto, um não conversa com o outro. 

Escrito por Egídio Serpa