
A crise comercial entre Brasil e Estados Unidos, em função das novas tarifas anunciadas pelo governo Trump às importações de produtos brasileiros, ganhou novos contornos. Em meio às tentativas de negociação por parte do governo brasileiro, os EUA demonstraram interesse nas reservas de Elementos Terras Raras (ETRs) presentes em solo brasileiro.
Na quinta-feira (24), o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, se reuniu com representantes do setor de mineração, incluindo empresários, agentes do governo e do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), para sugerir um plano entre os dois países para a exploração dos minerais.
Além das reservas de ETRs, o Brasil tem abundância de nióbio, grafite, níquel, lítio, cobre e cobalto, também considerados estratégicos para os rumos da economia global.
O que são os Elementos Terras Raras
Apesar do nome, as terras raras são abundantes. A expressão está mais relacionada ao processo de extração e separação do que à escassez.
Essenciais na fabricação de turbinas eólicas, motores de veículos elétricos e equipamentos eletrônicos, ETRs são um conjunto de 17 elementos químicos encontrados em baixas concentrações, que demandam um complexo processo de extração e separação até se tornarem ligas e ímãs permanentes – produto final mais utilizado pela indústria na transição energética.
O Brasil tem a segunda maior reserva (19%), mas apenas 0,02% da produção mundial: 80 toneladas das 350 mil produzidas em todo o mundo. Projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontam que a demanda pelos ETRs no país deve crescer 6 vezes entre 2024 e 2034, saltando de cerca de 1 mil toneladas para mais de 6 mil.
“O mundo começou a olhar mais para esses elementos por questões geopolíticas, de garantia do fornecimento de matéria prima, e por causa da mobilidade elétrica e das energias renováveis. Com o Acordo de Paris, a eletrificação da frota e a energia eólica passaram a ser vistas como estratégias para redução das emissões”, explicou André Pimenta de Faria para a Agência de Notícias da Indústria. Faria coordena o laboratório-fábrica de ímãs de terras raras, que integra o Instituto SENAI de Inovação em Processamento Mineral, em Minas Gerais.
Iniciativas brasileiras
Em operação no laboratório de Lagoa Santa (MG), a maior planta-piloto de produção de ímãs permanentes da América do Sul tem potencial para produzir 100 toneladas por ano. A fábrica vai processar a liga de neodímio – um dos elementos terras raras –, ferro e boro para produção dos ímãs.
O Instituto SENAI e outras seis instituições de pesquisa e tecnologia se juntaram a 28 empresas para implementar o ciclo completo de produção nacional, da extração e refino dos elementos até a produção final e reciclagem de ímãs.
O MagBras foi um dos três projetos aprovados na última chamada de Projetos Estruturantes do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) com a Fundação de Apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (Fundep), no escopo do Programa Mover. O investimento é de R$ 73,3 milhões, sendo R$ 60 milhões do Mover e R$ 13,3 milhões de contrapartida das empresas.
Das 28 empresas, participam startups e companhias de diferentes setores, incluindo WEG, Stellantis, Iveco Group, Vale, Mosaic e Schulz; além do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT); o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem); a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e os Institutos SENAI de Inovação em Processamento Mineral (MG), Processamento a Laser (SC), Sistemas de Manufatura (SC) e Manufatura Avançada (SP). Reunir diferentes atores da cadeia e instituições de pesquisa referência na área é considerado um grande diferencial do projeto.
Além da concorrência com outros países que dominam a tecnologia e os investimentos, André Pimenta de Faria destacou a contratação de profissionais como um dos maiores desafios. O conhecimento ainda está concentrado na academia, com mestres e doutores, e são necessários especialistas e técnicos para trabalhar na operação na planta.
Como ímãs de terras raras impulsionam a transição energética
Segundo José Luciano de Assis, gerente de Tecnologia e Inovação do CIT-SENAI, os ímãs de terras raras são importantes produtos na transição energética pelo forte poder de magnetismo. São ímãs especiais que compõem motores elétricos, aerogeradores para a energia eólica e outros componentes eletrônicos, como, por exemplo, sensores, microchips e placas eletrônicas. Isso explica o motivo de integrarem a cadeia de descarbonização.
“Os ímãs são parte importante de um motor elétrico. Um motor elétrico está dentro de um carro elétrico ou de algum equipamento estacionário que gera energia a partir de motores elétricos. Então, por exemplo, um carro elétrico hoje tem de 30, 50 quilos de ímãs permanentes de terras raras na sua composição. É importante as pessoas entenderem que esse imã tem propriedades muito mais poderosas, diferente daquele ímã de geladeira”, explica José Luciano.
De acordo com o gerente de TI, como primeiro produtor de ímãs permanentes no Hemisfério Sul, o MagBras tem potencial amplo e global.
“A gente tem condição de mostrar para o mundo que somos capazes de produzir um elemento e um produto importante para o processo de transição energética. Isso vai abrir um leque de política industrial, de negociações de outras naturezas que não técnicas para oportunidades de negócio no Brasil. Você imagine no futuro nós termos investidores industriais produzindo aqui no Brasil esses ímãs e vendendo para o mundo inteiro?”, diz o gerente.
Fonte: Brasil 61