Inadimplência no campo expõe fragilidade do crédito rural e pressiona pequenos produtores

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A inadimplência no campo vem crescendo e acende um sinal de alerta para o agronegócio brasileiro. Com custos de produção em alta, preços das commodities em queda e políticas de crédito que não chegam ao pequeno produtor, agricultores enfrentam dificuldades crescentes para honrar compromissos financeiros. O cenário mostra que a falta de acesso a crédito adequado e a concentração de recursos nos grandes proprietários ampliam a vulnerabilidade dos menores, que hoje pagam a conta da instabilidade econômica.

Embora o governo federal anuncie linhas de financiamento, a realidade no campo é outra. Exigência de garantias, juros elevados e trâmites demorados tornam o crédito oficial inviável para boa parte dos agricultores familiares. Muitos acabam recorrendo a renegociações sucessivas ou até a financiamentos informais, que aliviam o caixa no curto prazo, mas prolongam o ciclo de endividamento.

De acordo com a Serasa Experian, a inadimplência entre produtores pessoa física alcançou 7,9% no primeiro trimestre de 2025, ante 7,0% no mesmo período do ano passado. Apesar de o índice ser puxado por grandes proprietários e arrendatários — no Norte, chega a 10,7% —, os pequenos produtores sofrem sobretudo pela falta de acesso a crédito estruturado.

Sem capital de giro, reduzem investimentos em tecnologia, insumos e maquinário, comprometendo produtividade e competitividade. Em muitas regiões, o resultado é o abandono da atividade agrícola e sérios impactos sociais, já que milhares de famílias dependem da renda do pequeno cultivo para sobreviver.

O levantamento mostra um contraste no país. O Rio Grande do Sul, mesmo com secas recorrentes e as enchentes devastadoras de 2024, registrou apenas 4,8% de inadimplência, reflexo das renegociações emergenciais e do uso consolidado de seguros agrícolas. No Paraná e em Santa Catarina, os índices também ficaram abaixo da média nacional, em 5,7% e 6%, respectivamente. Já no Mato Grosso, maior produtor de grãos do Brasil, a taxa foi de 9,5%. O destaque negativo é o Amapá, com 21,2%, seguido de outros estados do Norte e Nordeste.

A atual política de crédito rural, que deveria funcionar como rede de proteção em períodos de crise, tem se mostrado insuficiente. Recursos se concentram nos grandes produtores, enquanto os menores ficam descobertos. Além disso, a falta de previsibilidade e de instrumentos de proteção contra oscilações de preços e eventos climáticos intensifica a vulnerabilidade.

O setor produtivo cobra mudanças estruturais: linhas de crédito mais inclusivas, juros adequados à realidade do campo e seguros rurais mais abrangentes. Sem essas medidas, a tendência é de aprofundamento da crise, com riscos não apenas para a sobrevivência dos pequenos agricultores, mas também para a segurança alimentar e para a solidez de toda a cadeia do agronegócio brasileiro.

Fonte: Pensar Agro