Milhares de bolsonaristas vão às ruas do País antes de veredicto sobre trama golpista

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O ex-presidente Jair Bolsonaro, em 3 de setembro de 2025, em sua residência em Brasília © Sergio Lima

Dezenas de milhares de apoiadores de Jair Bolsonaro se manifestaram, mede neste domingo (7), em várias cidades do Brasil, a poucos dias de a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidir se o ex-presidente é culpado de orquestrar uma trama golpista. 7 de setembro: Lula desfila; apoiadores de Bolsonaro pedem anistia
7 de setembro: Lula desfila; apoiadores de Bolsonaro pedem anistia© Ivan PISARENKO

O STF dará esta semana seu veredicto no processo contra Bolsonaro (PL) por uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, que pode condená-lo a mais de 40 anos de prisão. 

Em prisão domiciliar preventiva desde agosto, o ex-presidente (2019-2022) é o protagonista ausente dos atos em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, com cerca de 42 mil presentes em cada uma, segundo cálculos del Monitor de Debate Político da Universidade de São Paulo (USP).

Também houve manifestações menores em Brasília, Recife, Belém e outras cidades.

O ato principal começou às 15h na Avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo, com a presença de vários presidenciáveis da direita.

“Estamos aqui para defender o que é legal e os valores nesse país, o julgamento de Bolsonaro é uma canalhice”, disse à AFP Aparecida Paula, uma aposentada de 70 anos, que vestia uma camisa de Neymar Jr.

As manifestações pedem uma anistia para centenas de bolsonaristas condenados pelo ataque às sedes dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro de 2023. Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) se manifestam em 7 de setembro de 2025 em São Paulo
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) se manifestam em 7 de setembro de 2025 em São Paulo© NELSON ALMEIDA

Segundo a Procuradoria-Geral da República, Bolsonaro promoveu esses atos como uma última tentativa de se manter no poder após perder as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

O bolsonarismo busca votar a anistia no Congresso e que ela também beneficie o seu líder, caso seja condenado.

– ‘Thank you, Trump’ –

“Thank you, president Trump [Obrigado, presidente Trump]”, “S.O.S, Trump” e “Freedom [Liberdade]” diziam alguns cartazes levados por manifestantes na Paulista, junto com outros com mensagens dirigidas aos líderes do Congresso para levarem adiante a votação do projeto de anistia.

Vestidos com as cores verde e amarela da bandeira brasileira, os manifestantes também exibiram uma bandeira gigantesca dos Estados Unidos.

Há um mês, o presidente americano, Donald Trump, impôs tarifas aduaneiras punitivas ao Brasil, sob o argumento de que existe no país uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro, seu aliado. Também sancionou juízes do Supremo e outras autoridades brasileiras.

“A anistia para os condenados do 8 de janeiro e para Bolsonaro é a única pauta que pode salvar o Brasil”, afirmou Alexandre Cerqueira, pintor náutico de 45 anos, que foi ao ato em São Paulo, acompanhado da esposa e dos três filhos.

No palanque montado em São Paulo, estiveram presentes o organizador dos atos, o pastor evangélico ultraconservador Silas Malafaia, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), a mais ovacionada pelo público.

“Quem era para estar aqui é meu marido, que está amordaçado em casa”, disse ela, entre lágrimas. 

Além do julgamento pela trama golpista, o ex-presidente está inelegível até 2030 por ter questionado, sem apresentar provas, as urnas eletrônicas. 

Bolsonaro se diz inocente e afirma que é perseguido.

“Só existe um candidato para nós, que é Jair Messias Bolsonaro”, afirmou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, cogitado como sucessor do ex-presidente nas eleições de 2026 e defensor do projeto de anistia.

“Não vamos aceitar a ditadura de um poder sobre o outro”, acrescentou, em referência ao STF.

Procurado pela AFP, Tarcísio assegurou que “tem [votos] sobrando” no Congresso para levar a anistia adiante.

– ‘ Sem anistia  –

Neste feriado da Independência, o presidente Lula encabeçou o tradicional desfile cívico-militar em Brasília. 

“Brasil Soberano” foi o lema escolhido este ano, em alusão ao tarifaço de Trump e às sanções da Casa Branca. 

“Não aceitamos ordens de quem quer que seja”, disse Lula em discurso televisionado na noite de sábado. 

Sem citar nomes, tachou de “traidores da pátria” alguns “políticos brasileiros que estimulam os ataques ao Brasil”.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, mudou-se meses atrás para os Estados Unidos, onde conduz uma campanha para que o governo Trump interceda a favor de seu pai.

“Sem anistia”, entoou parte do público durante o desfile em Brasília.

Esta semana, durante um encontro com militantes em Belo Horizonte (MG), Lula disse que vê um “risco” de anistia caso o tema seja votado no Congresso.

Mas tanto o governo quanto a oposição reconheceram que, nos últimos dias, se intensificaram as negociações para levar o assunto ao plenário do Congresso.

A decisão de votar ou não depende, em primeira instância, do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (REPUBLICANOS-PB).

Fonte: AFP