Mais que números, dados e metas, a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf-MT) colhe hoje histórias de transformação e superação. O Programa de Melhoramento Genético do Rebanho Leiteiro da Secretaria, alcançou a marca de 4.195 prenhes confirmadas em propriedades familiares, mudando a forma como o pequeno produtor enxerga a produção de leite: com mais técnica, mais dignidade e mais esperança.
“Cada vez que recebo uma foto de uma bezerrinha nascida com genética do programa, eu me emociono. Porque sei o que aquilo representa para aquela família. É mais que um animal: é uma chance de uma vida melhor”, relata a coordenadora do programa, médica-veterinária, Dra. Vânia Ângela.

O programa, que une distribuição de sêmen de alta qualidade, transferência de embriões e entrega de novilhas prenhas, nasceu de uma demanda urgente das indústrias de laticínios, que operavam com até 40% de capacidade ociosa por falta de leite. A Seaf entendeu que a resposta não viria apenas com manejo ou alimentação mas sim da base da cadeia. Era preciso apostar em tecnologia genética adaptada à realidade da agricultura familiar.
A ideia inicial enfrentou resistência. Entidades e técnicos questionaram se os produtores estariam prontos para uma tecnologia considerada complexa. “Chegamos até a recuar. Mas estudamos, fomos a campo e descobrimos o contrário: os produtores se adaptaram, abraçaram o projeto. E hoje ele é esse sucesso”, lembra a coordenadora.
Em Alta Floresta, no norte do estado, os resultados do programa são expressivos. A cidade foi contemplada com 500 doses de sêmen, 30 novilhas prenhes (sendo 15 da Seaf e 15 da contrapartida da Cooperativa Ouro Verde) e 186 prenhes confirmadas, consolidando o município como uma das referências em melhoramento genético leiteiro no estado. Investimento de R$ R$ 780.331,03.

Um dos exemplos de sucesso vem do Sítio dos Ypês, onde mora o produtor Daniel Carlesso com a família. Todos estão envolvidos com a atividade em uma área de 75 hectares e com cerca de 100 vacas leiteiras, a propriedade foi contemplada com 16 prenhezes pelo programa, sendo que 11 bezerras já nasceram e, dessas, três já se reproduziram.
“O pessoal da Seaf nos procurou para iniciar o projeto. Já estamos na quarta fase. As novilhas da primeira fase já estão em lactação. Uma delas chegou a produzir 32 litros por dia, mesmo sendo vaca primípara [fêmea que pariu uma vez]. Participou de torneio leiteiro e foi destaque. A genética é visivelmente superior”, ressaltou o produtor.
No último torneio leiteiro da região, o Sítio dos Ypês conquistou os cinco primeiros lugares, incluindo uma vaca do programa da Seaf que garantiu o terceiro lugar com 31,5 litros por dia. Daniel destaca que a melhoria genética só faz sentido se acompanhada de outros dois pilares: nutrição e manejo. Antes já tínhamos uma produção boa. Mas com o melhoramento genético, fomos além. Isso mudou tudo”, contou Daniel.
“Hoje a gente entende que esses três fatores andam juntos. E o projeto da Seaf é fundamental”, afirma. Ele também ressalta a importância de obras estruturantes do estado, como o asfalto recente que liga a propriedade à cidade. “Agora nossa produção chega mais rápido na cidade”.

De acordo com a Dra. Ângela, os resultados do programa são visíveis em todo o estado. Produtores que tinham vacas produzindo apenas cinco litros por dia, agora têm animais que chegam a produzir de 20 a 30 litros, o que reflete diretamente no aumento da renda familiar. “Produtores que antes tiravam pouco leite agora conseguem ver retorno de verdade. Isso representa aumento de renda, permanência no campo, filhos estudando, mais dignidade. É disso que se trata”, destaca. Ela afirma que um dos maiores ganhos foi a mudança de mentalidade dos produtores. “Eles perceberam que genética sozinha não faz milagre. Começaram a investir em nutrição, em sanidade, em controle zootécnico. Isso é evolução técnica, mas também é transformação cultural”, observou a médica-veterinária.
Cooperativas também relatam aumento na captação de leite após a chegada das novilhas prenhas, com registros de crescimento entre 1,5% e 2%. “Hoje, a procura é tão grande que nem conseguimos atender todos de uma vez. Mas seguimos trabalhando para ampliar cada vez mais o programa”, reforçou a coordenadora.
Desafios e conquistas
A implantação do programa também exigiu superação de desafios logísticos, dada a extensão territorial de Mato Grosso, além de resistência inicial quanto à qualidade genética exigida. “Teve gente que disse que não precisava utilizar genética tão boa. Mas se é pra fazer, vamos fazer o melhor. Hoje, ninguém mais questiona a qualidade”, afirmou Dra. Vânia. Ela destacou a importância de fazer a política pública chegar na ponta. “Não adianta ter um projeto bonito no papel, se ele não muda a vida de quem está nas propriedades rurais. Esse chegou. A gente vê no olhar dos produtores, nas fotos das bezerras, nos relatos das famílias. Esse projeto emociona, e é por isso que seguimos com tanta dedicação. ”
Outro aspecto importante observado durante a execução do programa foi o papel da mulher no avanço tecnológico das propriedades. “As mulheres são mais abertas à tecnologia. Muitas vezes, são elas que convencem os maridos a participar. Onde tem mulher liderando, o projeto anda, porque ela faz acontecer. Elas têm coragem, sensibilidade e visão”, observou a coordenadora.
Dra. Ângela reforça que a tecnologia não é algo reservado apenas para grandes produtores. “O pequeno produtor não pode ter medo. A tecnologia é para todos. E quando ele vê que funciona, que as bezerras nascem melhores, que a produção aumenta, ele muda a visão. Isso transforma a família toda.”
Como funciona o programa
A participação se dá por meio de associações, cooperativas e prefeituras (estas apenas nas modalidades com sêmen e embriões). O projeto de novilhas prenhas é acessível exclusivamente a associações e cooperativas via chamamento público. A Empaer é responsável pela avaliação das propriedades e seleção dos produtores, que devem ter capacidade mínima de produção e estrutura adequada.
Desde 2020, o programa de melhoramento genético da Seaf já investiu R$ 7,2 milhões, beneficiando 1.080 produtores em 32 municípios. Agora, o programa entra em sua quarta fase, com mais R$ 6 milhões garantidos para a expansão do atendimento. A licitação já foi concluída.
Para saber mais sobre o programa acesse https://www.agriculturafamiliar.mt.gov.br/leite1.