Ícone do site Hora 1 MT Notícias

Crise climática pressiona pequenos negócios: dois terços já foram afetados, 93% tiveram de reagir, aponta pesquisa

Mais de 90% dos pequenos negócios adotaram pelo menos uma medida emergencial para manter as operações, segundo pesquisa divulgada pelo CSS

Gestão da água lidera adaptação climática entre pequenos negócios, com captação, reuso, contenção de enchentes, drenagem e reforço de estruturas

Por Assessoria de Imprensa do Sebrae/MT

A pressão crescente sobre os recursos hídricos, seja pelas secas ou enchentes, tem guiado as ações de adaptação dos pequenos negócios brasileiros à crise climática. Segundo a pesquisa “Pequenos Negócios e as Mudanças Climáticas no Brasil“, divulgada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de Mato Grosso (Sebrae/MT), 63% das micro e pequenas empresas já sofreram impactos de eventos extremos (secas, enchentes, tempestades e ondas de calor), e a maior parte das respostas emergenciais envolve medidas relacionadas à água: captação, reuso e construção de reservatórios.

O levantamento aponta que 63% dos pequenos negócios já tenham sido atingidos por secas, tempestades, quedas de energia ou alagamentos

Entre os empreendimentos afetados, 94% adotaram pelo menos uma medida emergencial para manter as operações. O levantamento, realizado com 4.039 empresas pelo Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS), mostra que a maioria ainda reage de forma não planejada, já que apenas 18% possuem processos formais de gestão de risco e 64% não têm plano de adaptação. Porém, o apoio técnico pode virar esse jogo: entre os negócios que receberam consultoria ou capacitação, 95% adotaram ações de mitigação, 83% melhoraram processos e 74% reduziram custos ou aumentaram eficiência.

Para o presidente do Sebrae, Décio Lima, o estudo demonstra resiliência, mas também evidencia o grau de exposição desses empreendimentos. “Os pequenos negócios brasileiros estão reagindo com rapidez e coragem à crise climática. Mesmo sem grandes estruturas, eles inovam e mostram que são protagonistas da adaptação no território.” Lima complementa: “Mas essa resposta não pode ser solitária. Para transformar ações emergenciais em estratégias permanentes, é essencial ampliar acesso a crédito, tecnologia e orientação técnica.”

O diretor técnico do Sebrae Mato Grosso, André Schelini, reforça a centralidade do setor na transição climática. “Os pequenos negócios representam 95% das empresas formais e sustentam 80% dos empregos. Mesmo afastados dos grandes debates globais, são a base do nosso tecido produtivo e carregam enorme potencial de transformação socioambiental. Quando recebem apoio técnico, ferramentas adequadas e políticas públicas direcionadas, conseguem avançar com mais segurança. Este estudo mostra como esse segmento já começa a se movimentar e indica caminhos para uma transição mais justa e efetiva.”

Além das medidas relativas à água, os pequenos negócios relatam ações como reforço de estruturas, reorganização logística e instalação de sistemas de refrigeração para enfrentar as ondas de calor. A pesquisa do Sebrae confirma, porém, que 72% das empresas não realizam avaliação formal de riscos climáticos, o que mantém a adaptação focada na resposta imediata e não na prevenção.

Crise climática força reação imediata: 63% dos pequenos negócios já sofreram impactos e 93% precisaram se adaptar

Nove em cada 10 micro e pequenas empresas que sofreram evento climático extremo, de enchentes a ondas de calor, adotaram imediatamente uma medida emergencial para continuar operando. O contraste revela a urgência da situação. Embora 63% dos pequenos negócios já tenham sido atingidos por secas, tempestades, quedas de energia ou alagamentos, e 48% enfrentaram dificuldades no fornecimento de insumos ou produtos por causa de impactos ambientais, apenas 18% contam com processos formais de gestão de risco. A maioria reage “no susto”, mas reage.

As respostas mais comuns vão do reforço de estruturas e reorganização logística à realocação de equipamentos, passando por drenagem emergencial e captação ou reuso de água. Diante do crescente aumento da exposição dos pequenos negócios aos impactos climáticos, a gerente do CSS, Tássia Gonçalves, reforça a necessidade de avançar na preparação para os eventos climáticos. “Os dados mostram que os empreendedores estão reagindo, mas ainda sem a estrutura adequada. Nosso desafio é transformar respostas emergenciais em gestão preventiva, para que cada negócio tenha condições reais de antecipar riscos e manter sua operação com segurança.”

Mitigação em ritmo lento, mas com sinais promissores

Na agenda de mitigação, o avanço é mais lento: 65% não monitoram emissões e 57% não adotam qualquer medida para reduzi-las. Apenas 6% possuem metas formais. Ainda assim, há sinais positivos, como aumento de investimentos em eficiência energética, adoção parcial de energias renováveis e ações de conservação ambiental.

Pesquisa “Pequenos Negócios e as Mudanças Climáticas no Brasil” foi divulgada pelo Centro Sebrae de Sustentabilidade, ligado ao Sebrae/MT

Crédito climático emperra por falta de informação, burocracia e juros altos

Outro gargalo é o financiamento: apenas 5% das empresas acessaram crédito verde. Burocracia, juros altos e falta de informação são apontados como entraves. Para a analista Técnica do Sebrae/MT, Camila Andrade, o acesso ao crédito precisa ser democratizado. “Quando apenas uma parcela mínima consegue chegar ao financiamento verde, fica evidente que precisamos reduzir barreiras e ampliar a orientação técnica, para que mais empresas tenham condições de adotar soluções sustentáveis de forma viável e contínua.”

Pequenos negócios do Centro-Oeste sofrem com ondas de calor, mostra pesquisa

A pesquisa nacional, divulgada pelo Sebrae/MT sobre mudanças climáticas, mostra que a vulnerabilidade regional no Brasil é desigual. Enquanto as regiões Centro-Oeste e Norte tem uma percepção intermediária sobre os riscos das mudanças climáticas (62%), o Nordeste (76%) e o Sudeste (75%) concentram os maiores índices, reflexo da exposição a secas prolongadas, enchentes e ondas de calor. Já o Sul registra o menor nível de percepção (58%), e também maior proporção de empresas que afirmam não ter sofrido impactos recentes.

Os impactos também variam:

Ondas de calor lideram no Sudeste e Centro-Oeste;
Enchentes são mais citadas no Nordeste;
Secas e incêndios aparecem com força na região Norte.

Na análise por estado, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso são os estados que apresentam o menor índice de percepção das mudanças climáticas no país (37% e 40%, respectivamente).

Sair da versão mobile