Liquidação do Banco Master: o que acontece agora com as empresas do grupo?

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Crescimento do Master era baseado na emissão de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) - comprados principalmente por pessoas físicas Foto: Werther Santana/Estadão

Banco Central tomou a decisão nesta terça-feira, 18, de liquidar quatro empresas pertecentes ao conglomerado do Banco Master: Banco Master, Banco Master de Investimento, Banco Letsbank e Master Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários. Uma quinta empresa, o Banco Master Múltiplo, entrará em Regime de Administração Especial Temporária (Raet).

Segundo o BC, a decisão foi motivada pela grave crise de liquidez do conglomerado e pelo comprometimento significativo da sua situação financeira, assim como pela detecção de graves violações às normas que regem a atividade das instituições integrantes do SFN.

As quatro empresas liquidadas deixam de funcionar e são retiradas do Sistema Financeiro Nacional (SFN). O Banco Central nomeou a empresa EFB Regimes Especiais como liquidante, ou seja, como responsável por lidar com a administração e representação das quatro empresas no processo de fechamento. O liquidante buscará a venda dos ativos existentes para viabilizar o pagamento que for possível aos credores.

A EFB Regimes Especiais também cuidará do Raet do Master Múltiplo, poupado da liquidação por ser o controlador do banco digital Will Bank, que o BC considera que ainda pode recuperar a liquidez e ser vendido. O responsável técnico será Eduardo Felix Bianchini.

No Raet, as atividades normais da instituição seguem, e o regime pode ser encerrado se houver normalização da atividade ou solução de mercado para a instituição. Não havendo solução de mercado, a União pode assumir o controle. Se houverem medidas a serem adotadas para preservar funções críticas e a estabilidade financeira, o Raet pode ser encerrado por decretação de liquidação.

Banco Master

Principal empresa do conglomerado, o Banco Master foi fundado em 1974 como Máxima Corretora de Valores e Títulos Imobiliários. Esteve perto de falir em 2016, mas foi salvo por novos sócios que injetaram capital e determinaram uma mudança operacional. Em 2021, o nome foi alterado.

Desde então, o patrimônio do banco cresceu quase dez vezes e a carteira de crédito quintuplicou. Essa alta era baseada na emissão de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) – comprados principalmente por pessoas físicas – que são cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) no valor de até R$ 250 mil por CPF.

A composição de seu patrimônio com ativos de baixa liquidez, assim como a escalada na oferta de CDBs no mercado, chamou a atenção da Faria Lima e também do Banco Central, que recalibrou normas que tocavam nesses dois pontos, exigindo que o Master fizesse ajustes em seu balanço e operação.

Uma investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontou pela primeira vez indícios do cometimento de crimes financeiros por parte da diretoria do banco Master. Nesta terça-feira, a Polícia Federal deflagrou operação e prendeu o dono do banco, Daniel Vorcaro, enquanto o Banco Central decretou que o Master deixaria de funcionar.

Banco Master de Investimento

Outro que deixou de existir, o banco de investimentos do conglomerado era focado na “estruturação, coordenação e distribuição de grandes operações de Renda Fixa, Renda Variável e fusões e aquisições (M&A) para a captação de recursos no mercado nacional e internacional”, além de prestar assessoria financeira em negócios de M&A.

Banco Letsbank

O Letsbank era um banco digital que se definia como “um ecossistema completo de soluções financeiras integradas” para pessoas físicas e jurídicas. Entre os serviços oferecidos estavam boletos personalizados, soluções de “Compre Agora e Pague Depois”, cartões co-branded (com parceria entre instituição financeira e loja, por exemplo), antecipação de recebíveis, saques 24 horas e outros.

Master Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários

Focada em investimentos em empresas, a corretora atuava na Bolsa de Valores, em fundos imobiliários, fundos de investimento e de renda fixa, previdência privada e tesouro direto. Também oferecia serviços como a coordenação de ofertas públicas de ações.

Banco Master Múltiplo

Única das empresas do Master que não foi liquidada, o Banco Master Múltiplo passará por um Raet. O que salvou o banco foi ser controlador da Will Financeira, que por sua vez controla o banco digital Will Bank, com 10 milhões de clientes principalmente nas classes C e D. Pelo BC considerar que o Will Bank ainda pode recuperar a liquidez e ser vendido, o Master Múltiplo não foi liquidado.

Com isso, as atividades da instituição não são suspensas nem interrompidas. No entanto, os dirigentes perdem os mandatos e são substituídos — neste caso, pela EFB Regimes Especiais de Empresas, a mesma que se tornou liquidante do Master. O Raet do banco múltiplo terá duração de até 120 dias.

O BC também decidiu pela indisponibilidade de bens de controladores e ex-administradores do Banco Master Múltiplo: Master Holding Financeira SA, 133 Investimentos e Participações Ltda., Daniel Vorcaro, Armando Miguel Gallo Neto, Felipe Wallace Simonsen, Angelo Antonio Ribeiro da Silva e Luiz Antonio Bull.

Fonte: Estadão