Com versos de Silva Freire, presidente empossado faz homenagens a servidores

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TRT MT

O poeta e advogado Benedito Santana Silva Freire foi citado pelo desembargador Aguimar Peixoto durante o discurso de posse, em solenidade realizada na sexta (12). O magistrado, que assumirá a Presidência a partir de janeiro, relembrou a passagem de Silva Freire pela Justiça do Trabalho mato-grossense e dedicou trechos de sua obra poética em homenagem a todos os servidores da instituição.

A viúva do poeta, Leila Barros Silva Freire, e a filha Larissa, presidente da Casa de Cultura Silva Freire, estiveram presentes na solenidade e destacaram a alegria de ouvir os versos do poeta no discurso do presidente empossado. “Fico muito orgulhosa em saber que foi cumprida a profecia. Freire dizia que, mesmo após 100 anos, ainda estariam falando de seu nome”, afirmou Leila Freire, que conviveu por 25 anos com o jurista e com quem teve quatro filhos.

Segundo ela, embora feliz, a convivência foi marcada pelas longas horas de dedicação do jurista e poeta ao trabalho. “Ele tinha uma vida pública intensa, que exigia muita dedicação. Sempre o admirei e acredito que é merecedor de todas as homenagens”, ressaltou.

Dona Leila também lembrou do carinho do poeta pela Justiça do Trabalho. “Freire tinha orgulho de ter trabalhado no TRT e me disse muitas vezes que o doutor Avelino, primeiro presidente da Junta de Conciliação e Julgamento do estado, foi uma das pessoas que mais o ensinou e o inspirou em sua trajetória”, afirmou.

Foi Assim

Conhecido nacionalmente como Silva Freire, o poeta foi servidor do Tribunal na década de 1940, período que marcou a fundação da então Junta de Conciliação e Julgamento no estado. O registro histórico foi identificado pelo servidor Ademar Adams, quando atuava como chefe do Arquivo Geral do Tribunal, ao encontrar a assinatura do poeta em documentos oficiais da época.

A descoberta deu origem à crônica ‘Um poeta fazendo juntada’, publicada no livro ‘Foi Assim… vidas, olhares e personagens por trás da Justiça do Trabalho mato-grossense’, cuja primeira edição foi lançada em 2017. A obra reúne processos e histórias marcantes dos mais de 80 anos de atuação da Justiça do Trabalho em Mato Grosso.

Confira trecho do discurso de posse que cita Benedito Silva Freire:

“Abro aqui uma homenagem especial às servidoras e aos servidores deste Tribunal, em todos os setores e instâncias, na pessoa imortal do poeta cuiabano Benedito Santana da Silva Freire, ex-servidor desta Casa.

Um servidor poeta que assumiu no cargo inicial de servente, em 12 de outubro de 1948, e que, em maio de 1949, foi empossado como oficial de diligências, conforme termo de posse encontrado no acervo de memórias do nosso TRT.

Ambos os registros foram assentados no quadro permanente de pessoal do TRT de São Paulo, mas Silva Freire, enquanto aqui atuou, exerceu suas funções na antiga Junta de Conciliação e Julgamento de Cuiabá.

Nascido em Porto de Fora, atual Santo Antônio de Leverger, embora registrado como cuiabano, Silva Freire foi, além de poeta, advogado trabalhista e criminalista.

De sua vasta obra poética, marcada pelo movimento literário denominado concretismo — de versos vivos, em movimento, e ricos em neologismos — selecionei, para esta oportunidade, como forma de reverenciar os servidores desta Casa de Justiça, a poesia intitulada Árvore símbolo da vida.

Tal árvore, na composição poética de Silva Freire, imagino que seja um cajueiro ou uma mangueira, como tantas que frutificam nos lares cuiabanos.”

Poesia:

Árvore, cruz vegetal,

— arquitetura cheinha de passarinhos,

eis a árvore que agradeço, no meu lar.

— cheinha de passarinhos cheinhos de cores

ou timbres de cantos de amor…

árvore e vento

vento e fruto

fruto e ninho

ninho e funda…

árvore-funda-balanço-e-tombo!

Árvore de sal e mel

de cal e fel

e sol

e solidônia (terra da solidão, Amazônia)

e solidão da noite,

— com porte de nobreza,

molde de tristeza

com jeito de pobreza…

Árvore-luz,

tremada de luz,

sempre igual

e nova,

sempre viva e azul e viva…

— Nós nos entendemos, toda manhã,

quando me despeço de ti, para o trabalho,

— e tu, leve árvore de pluma e nuvem,

te disfarças em verde,

disfarçando a elaboração cotidiana de minha ausência,

e lágrima, nutrida em teu messiânico mistério…”

(Fabyola Coutinho)