Um ex-governador opositor da Venezuela processado por “terrorismo” e “instigação ao ódio” morreu na prisão, informaram no sábado, 6, representantes de organizações de direitos humanos à AFP.
Alfredo Díaz, ex-governador de Nueva Esparta (2017-2021), foi preso em meio à crise pós-eleitoral desencadeada após a reeleição do ditador Nicolás Maduro. A oposição denuncia fraude e reivindicação de vitória do opositor Edmundo González Urrutia, exilado.
A reeleição de Maduro para seu terceiro mandato consecutivo foi contestada como fraude eleitoral por diversos observatórios internacionais e amplamente não reconhecida internacionalmente. As eleições venezuelanas de 2024 também desencadearam protestos que deixaram 28 mortos e cerca de 2.400 detidos, a maioria acusada de “terrorismo”. Cerca de 2.000 pessoas foram libertadas desde então, segundo números oficiais.
Díaz “estava preso e isolado há um ano, só permitiram uma visita de sua filha”, indicou Alfredo Romero, diretor da ONG Foro Penal, que se dedica a defender detidos por razões políticas.
Desde 2014, 17 presos políticos morreram sob a custódia do Estado venezuelano, confirmou Romero à AFP. “A repressão basicamente se tornou um mecanismo ou uma estratégia do regime para intimidar”, acrescentou.
Com a morte de Díaz, de 55 anos, sobem para pelo menos seis os opositores mortos na prisão desde novembro de 2024, que foram presos no contexto da crise pós-eleitoral após as eleições disputadas em julho daquele ano.
“Quem assume a responsabilidade por isso e pelas outras mortes que ocorreram?”, questionou Romero.
A líder opositora María Corina Machado, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, disse que a morte de Díaz “se soma a uma alarmante e dolorosa cadeia de falecimentos de presos políticos detidos no contexto da repressão pós-eleitoral de 28 de julho”.
O governador eleito do estado de Nueva Esparta, Alfredo Díaz, participa de uma coletiva de imprensa em Caracas em 24 de outubro de 2017. O político opositor venezuelano Alfredo Díaz, ex-governador do estado de Nueva Esparta (2017–2021), processado por ‘terrorismo’ e ‘incitação ao ódio’, morreu na prisão em 6 de dezembro de 2025, informaram representantes de organizações de direitos humanos à AFP. (Foto de FEDERICO PARRA / AFP) Foto: Federico Parra/FEDERICO PARRA
“As situações destas mortes – que incluem a negação de atendimento médico, condições desumanas, isolamento e tortura, tratamentos cruéis, desumanos e degradantes – revelam um padrão sustentado de repressão estatal”, afirmou Machado num comunicado conjunto assinado também por González Urrutia.
Díaz foi preso na sede do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), em El Helicoide, Caracas. O local é denunciado como um “centro de torturas” pela oposição venezuelana e ativistas de direitos humanos.
Díaz “havia sido acusado, mas seu julgamento estava paralisado”, informou à AFP o advogado Gonzalo Himiob, também da ONG Foro Penal. “Nós fomos nomeados pela sua família como seus representantes legais, mas o governo impôs um defensor público”, disse. A contagem mais recente do Foro Penal na Venezuela é de que há pelo menos 887 presos políticos no país.
Fonte: Estadão
