Maria Clara Souza Campos, de 22 anos, segue crescendo e se fortalecendo a cada dia. Autista e artista plástica, participou de três edições – Cáceres, Rondonópolis e Cuiabá – do “TJMT Inclusivo: Capacitação e Conscientização em Autismo”, experiência que impulsionou seu desenvolvimento pessoal e profissional. O orgulho de sua mãe, Adriana Ferreira de Souza, servidora do Tribunal de Justiça há 25 anos, acompanha cada avanço da jovem.
A desenvoltura de Maria Clara também se manifesta em sua arte, descoberta há menos de quatro anos. Apaixonada pelo abstrato, pelas cores vibrantes, gatos e peixes, ela transforma seus traços na mesma medida em que ganha confiança.
Além de camisetas e telas, desta vez ela levou para a exposição canecas ilustradas com frases e muitas cores, marca registrada, assim como os gatinhos, em suas produções. Adriana conta que, entre os oito e dez anos, Maria Clara já tinha a convicção de que aprenderia a ler e escrever. Para apoiá-la, mãe e filha assistiam a filmes juntas, e a menina aprendia com as legendas.
“Ana, você precisa aprender a falar, a escrever”, repetia Adriana. A menina, determinada, respondia: “Mamãe, eu não quero ser analfabeta, eu preciso aprender.”
Do que chamava sua atenção, uma frase, uma legenda, ela pausava o vídeo e copiava no caderno. Assim nasceram as primeiras anotações.
Em um dos filmes, Pop Star, encontrou a expressão “amor perfeito” e a registrou. Repetia o processo: pausava, copiava, coloria. Desde cedo demonstrava forte conexão com as cores: “vermelho, vermelho; preto, preto; verde, verde; amarelo, amarelo”.
Entre tantas frases, uma emocionou a mãe: “Todos somos um”. “Quando vi isso, decidi transformar essas frases em canecas. Ela tinha apenas oito ou nove anos”, relembra.
Outra anotação marcante dizia: “Meninas não choram por meninos.” Mesmo sem compreender totalmente o significado, já revelava sensibilidade e personalidade.
Hoje, na terceira edição do projeto, Adriana fala com orgulho sobre a evolução da filha.
Para quem observa de fora, Maria Clara está mais tranquila, mais segura de si. “Sim, ela evoluiu muito. Há um progresso evidente, embora o dia a dia ainda exija estabilidade. Mas ela sempre surpreende.”
A mãe destaca ainda o impacto da iniciativa conduzida pela desembargadora Nilza Maria Pôssas de Carvalho, presidente da Comissão de Acessibilidade e Inclusão. “Quem vive isso todos os dias sabe o quanto precisamos abrir portas e quebrar paradigmas. O olhar humano faz toda a diferença. E pertencer é fundamental, não adianta apenas olhar, é preciso agir.”
O exemplo de Maria Clara inspira outras famílias. “Sempre vêm pessoas conversar comigo. Em todos os encontros acabo acolhendo alguém, ouvindo, ajudando. Muitas perguntam: ‘Posso fazer isso com o meu filho?’ Acabo me tornando referência e faço o acolhimento dessas pessoas, a escuta”, relata Adriana.
TJMT Inclusivo
O “TJMT Inclusivo — Capacitação e Conscientização em Autismo”, etapa Cuiabá, foi organizado pela Comissão de Acessibilidade e Inclusão do Poder Judiciário de Mato Grosso, pela Escola Superior da Magistratura (Esmagis-MT) e pela Escola dos Servidores, em parceria com a Prefeitura de Cuiabá e com apoio da Igreja Lagoinha.
A edição realizada na capital reuniu magistrados, servidores, profissionais da saúde e da educação, cuidadores de aluno com deficiência (CAD), familiares de pessoas autistas, estudantes e a sociedade em geral.
Todo o evento foi transmitido pelo c anal do TJMT n o Youtube. Confira: https://www.youtube.com/watch?v=1UYV9zUAMy0






