Coudet de volta ao Inter

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Além da intensidade e os berros à beira do gramado, há outra característica no trabalho de Eduardo Coudet. O argentino é adepto do esquema 4-1-3-2 e um modelo de jogo agressivo, que busca desarmar o rival próximo da área e atacar o mais rápido possível. O sistema, utilizado pelo treinador em todas as equipes pelas quais passou e que deve ser repetido do Inter, é o mesmo que fez Enner Valencia brilhar na Turquia.

Assim como Coudet, Jorge Jesus também tem o esquema com dois atacantes à frente como o preferido. No Fenerbahçe, Valencia dividia a última linha com o belga Michy Batshuayi. O estilo ofensivo de jogo do português permitiu que o camisa 13 brilhasse. Foram 33 gols em 48 partidas, além de sete assistências.

Mano Menezes tem como esquema preferido o 4-2-3-1. O agora ex-treinador colorado gosta de pontas, ao contrário do argentino. Na estreia de Valencia (derrota por 2 a 0 para o Fluminense), inclusive, colocou o equatoriano aberto pelo lado para manter Luiz Adriano como o homem de referência.

No empate em 0 a 0 com o Palmeiras, no último domingo, Valencia foi o centroavante. Mas assim como ocorreu na primeira partida, teve uma atuação discreta. Com mais um atacante ao seu lado, o equatoriano pode ser beneficiado pelo esquema do treinador argentio. Coudet prega que a marcação comece já na saída de bola do adversário, próximo à área.

Foi assim que Thiago Galhardo, por exemplo, virou protagonista no Beira-Rio nas mãos do argentino. O atual jogador do Fortaleza balançou as redes em 22 oportunidades, além de dar nove assistências. O desempenho rendeu até convocação para a Seleção.

Quem pode perder espaço?

Se o estilo de Coudet pode ser um trunfo para Valencia deslanchar, é bem provável que alguns jogadores precisarão redobrar esforços para ganhar a confiança do técnico. Como Coudet não é adepto dos pontas, Wanderson e Pedro Henrique, por exemplo, precisarão se adaptar.

Pedro Henrique, que atualmente se recupera de lesão muscular na coxa direita, atuou como centroavante no Gauchão e terminou como artilheiro da competição, com oito gols. É um trunfo que ele terá para seguir com prestígio no elenco. Já Wanderson é um que pode perder espaço.

Por não utilizar pontas, o técnico aposta nos laterais abertos, como apoiadores. Bustos aproveitará a aptidão ofensiva para se juntar aos companheiros e trabalhar para municiar os homens de frente. Renê, que é mais defensivo, é outro terá que modificar a maneira de atuar.

Coudet não é adepto do chutão na construção das jogadas, mesmo quando pressionado. Gosta da saída de bola por baixo, com troca de passes até deixar os rivais para trás e chegar ao ataque. Foi com tal alegação que Rodrigo Moledo caiu na hierarquia na passagem anterior do técnico pelo Beira-Rio.

Estilo ofensivo e defesa exposta

O posicionamento da equipe também fica adiantado. Não raro, os últimos marcadores estão posicionados quase no meio do campo. Uma virtude quando recupera a bola para ter menos espaço até chegar ao gol rival, mas que dá espaço caso o time sofra um contra-ataque e expõe o goleiro.

O primeiro volante, quando o Inter estiver com a posse, estará no meio dos dois zagueiros para iniciar a construção. É a partir deste movimento que os laterais recebem a liberdade e avançam.

Eduardo Coudet em treino do Inter em 2020 — Foto: Ricardo Duarte/DVG/Inter

Eduardo Coudet em treino do Inter em 2020 — Foto: Ricardo Duarte/DVG/Inter

Coudet gosta que o time esteja sempre com a bola. No período do Colorado, na maioria dos jogos o Inter teve mais posse que os adversário. Ofensivista, o treinador chegou a dizer que não se importa em ser vazado, desde que marque mais gols que o adversário.

– Prefiro ganhar por 4 a 3 do que por 1 a 0. Na Argentina, eu era criticado por ser muito ofensivo. Ninguém gosta mais de atacar do que eu – disse em entrevista à GZH.

E aqui vai um alerta. Afinal, Mano, mesmo conservador, não conseguiu dar estabilidade ao sistema defensivo do Inter em 2023. A bola aérea teimou em vazar, algo que Coudet precisará corrigir. O treinador também teve dificuldades com a jogada em sua primeira passagem pelo Beira-Rio.

Coudet terá que lutar contra o tempo para moldar as ideias de jogo. O prazo é 1º de agosto, quando começa a disputa das oitavas de final da Libertadores contra o River Plate. Mas o novo treinador já precisará dar uma resposta imediata neste domingo, contra o Bragantino, pelo Brasileirão.