Redução de emissão de carbono será até 2060, mas “no ritmo” da China

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A China deverá atingir um pico de carbono até 2030 e a neutralidade até 2060, disse o presidente Xi Jinping. Mas ele adverte que o caminho será determinado por Pequim e não admite quaisquer ingerências externas. O comentário surgiu esta semana, durante a visita do enviado norte-americano para o clima, John Kerry.

Perante um planeta que se debate com calor, fumo e enxurradas extremas, os Estados Unidos e a China – os dois maiores poluidores do mundo – reuniram-se nessa terça-feira (18) para negociações climáticas.

John Kerry viajou a Pequim com a missão de pedir uma ação mais rápida para enfrentar a crise das alterações do clima. O encontro contou com o primeiro-ministro da China, Li Qiang, e o diplomata Wang Yi.

Kerry enfatizou a “necessidade de a China descarbonizar o setor de energia, cortar as emissões de metano e reduzir a desflorestação”, informou um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA em comunicado.

O político norte-americano também instou a China a “tomar medidas adicionais para aumentar sua ambição climática, a fim de evitar os piores impactos da crise climática”.

Descarbonizar à maneira chinesa

O presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou com Kerry durante a visita de quatro dias, mas deixou claro que o país vai garantir dois compromissos com o ambiente.

A China deve “atingir um pico de carbono até 2030 e a neutralidade de carbono até 2060” – a meta é “inabalável”, disse Xi num discurso para autoridades ambientais em Pequim, de acordo com a agência de notícias estatal Xinhua.

E deixou um recado: “O caminho, método, ritmo e intensidade para atingir esse objetivo devem ser determinados por nós mesmos, e nunca serão influenciados por outros”.

Os comentários de Xi na conferência sugerem que a China não admite ser pressionada, especialmente se a exigência tiver origem nos Estados Unidos.

Nos últimos anos, a China avançou em dois caminhos opostos. Se por um lado investiu em energia limpa, tornando a capacidade solar como a maior relativamente ao resto do mundo, o país passou também a liderar em capacidade eólica e veículos elétricos.

Carvão

Em direção contrária, Pequim acelerou a aprovação de novas centrais movidas a carvão. Essa medida despertou preocupações ambientais, pois esses novos projetos retardam o abandono do uso carvão.

A China e os Estados Unidos são os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, embora os registros chineses apresentem o dobro dos valores anotados nos EUA. No plano de longo prazo, historicamente, os EUA emitiram mais do que qualquer outro país.

Em termos econômicos, as relações entre Washington e Pequim atravessam um dos piores momentos e envolvem assuntos geopolíticos, comerciais e tecnológicos.

Porém, os Estados Unidos defendem que a cooperação climática com a China deve se desenrolar de maneira autônoma, na forma de uma trégua para o aquecimento global.

“O clima deve ser tratado como um desafio autônomo que requer esforços coletivos das maiores economias do mundo”, afirmou Kerry. E acrescentou: “O clima deve ser independente, porque é uma ameaça universal para todos no planeta”.

As autoridades chinesas deixaram claro que, mesmo estando dispostas a reiniciar as negociações climáticas há muito paralisadas com os Estados Unidos, o relacionamento geral tenso dos dois países pode restringir a cooperação.

Wang Yi, um alto funcionário de relações externas que assessora o presidente Xi Jinping, lembrou a Kerry que a cooperação da China com os Estados Unidos sobre o clima “não pode ser separada do contexto mais amplo das relações sino-americanas”, segundo um comunicado oficial chinês.

Wang Yi arrematou com mais recados dirigidos ao presidente norte-americano, Joe Biden. Sublinhou que os Estados Unidos devem seguir uma política “razoável, pragmática e positiva” em relação à China e destacou as exigências de Pequim a Washington, para que as questões em torno de Taiwan sejam “tratadas adequadamente”.

Fonte: Carla Quirino – RTP – Pequim
Crédito de imagem: © REUTERS/Florence Lo