Governo vota benefícios para empresa de Marido de Marta, em troca de retorno ao PT e disputar prefeitura em SP

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O Complexo Xadrez Político das Debêntures e a Reviravolta Partidária de Marta Suplicy

Em uma demonstração de habilidade política e negociações que evocam a complexidade do xadrez, o governo federal manobrou no Tabuleiro do Congresso a aprovação de uma legislação que traz a assinatura de distintos interesses. Marcio Toledo, líder empresarial à frente da Associação Brasileira de Armazenamento de Energia (Armazene), marcadamente ativo no cenário das conversas legislativas, é também a outra metade do casal junto a Marta Suplicy. Este movimento ocorreu em sincronia com as tratativas envolvendo a ex-prefeita e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que visavam o retorno dela ao Partido dos Trabalhadores (PT) para somar forças na corrida eleitoral paulistana ao lado de Guilherme Boulos (PSol).

Toledo não apenas administra empresas na esfera de infraestrutura e energia mas também foi um dos articuladores da Armazene, que emergiu como voz ativa nas demandas do setor junto ao poder público. A pauta crucial era a aprovação de um marco legal, inicialmente impulsionado pelo deputado João Maia (PP-RN), que propunha um modelo para que corporações privadas com contratos públicos pudessem emitir debêntures visando o financiamento de investimentos essenciais.

A proposta transcendeu as linhas partidárias e foi endossada por uma variedade de parlamentares, do PT ao PL. A aprovação na Câmara aconteceu em 2022, mas somente após um retrabalho no Senado e algumas emendas a matéria voltou para uma nova avaliação dos deputados.

Enquanto os bastidores fervilhavam, Toledo adentrou Brasília para um congresso de energia, momento em que também se encontrou com Alexandre Padilha, então Ministro das Relações Institucionais, longe dos holofotes da agenda oficial. Fontes do PT sugerem que Toledo já estava ciente do interesse de Lula na parceria política com Marta.

O debate sobre as debêntures ressurgiu na Câmara algumas semanas após esse encontro sigiloso, tendo o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), duplamente atrelado ao meio empresarial e político e presidente do conselho consultivo da Armazene, como relator. Jardim expressou gratidão ao líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), pelo esforço pessoal em trazer a questão para deliberação no plenário.

A cronologia dos eventos sugere um hábil alinhavo político: após a aprovação da lei, Marta Suplicy afastou-se da prefeitura a pretexto de férias, não revelando discussões sobre a transferência partidária com o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Numa tacada, Lula acolhe Marta e Toledo num encontro que selou o retorno dela ao PT.

O presidente sancionou de pronto o controverso projeto dois dias após, e especulações sobre a aprovação do projeto servir como moeda de troca para a filiação de Marta ao PT cresceram nos corredores municipais.

O projeto, que aguarda regulamentação, promete uma injeção de capital gigantesca no setor de energia, e potencialmente um impacto de até R$ 1 trilhão em investimentos em várias frentes da economia nacional. Contudo, descontentamento emergiu do PSol, com Boulos e aliados criticando a possibilidade de instituições que gerenciam escolas, hospitais e prisões se beneficiarem da emissão de debêntures.

Marcio Toledo e Marta Suplicy permanecem silenciosos diante das controvérsias e a Armazene evita comentários, mas o episódio deixa claro que na política, assim como no xadrez, muitas vezes as peças movem-se sob a superfície antes do xeque-mate ser declarado.